sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A Homossexualidade na Mídia - O que Mudou?

Disponível em:

http://www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=5399

Por Marcos Freitas* 14/8/2008 - 21:06

Sabemos que muita coisa mudou na questão da homossexualidade na mídia, mas temos que admitir que ainda falta uma grande jornada para uma situação minimamente favorável. Ultimamente todas as novelas tem abordado personagens gays em suas tramas, mas são gays fora do convencional, gays sem libido sexual, do mesmo jeito que a sociedade quer que nós sejamos. São gays a partir de um ponto de vista fundamentalista, e não é isso o que queremos. Porque não existem em novelas gays que se amam? Gays que se beijam e se envolvem em cenas românticas? Pois é esse gay que existe na sociedade, e se a novela é para retratar a sociedade, nada mais justo do que um gay com libido sexual ativa.

Na última novela global houve uma cena de um registro de união estável. Muitos pensaram que finalmente ocorreria um beijo gay. Temos que admitir que nunca uma novela foi tão longe, mas percebemos claramente que a cena foi cortada, e em troca disso, foi inserido um comentário homofóbico pela personagem que interpretava o juiz que estava registrando a união ao dizer que "Nunca em tantos anos de trabalho, ele tinha presenciado tanta frescura". Na sociedade é aceitável uma noiva e um noivo se preocuparem com a decoração, com o andamento da cerimônia, mas num casamento gay, isso não é permitido, além de todos os direitos que nos são negados, não podemos festejar com o que nos resta, não podemos fazer uma união estável com festa, com glamour sem sermos rotulados de frescos. Concordo quando dizem que o comentário do juiz foi para retratar a homofobia que existe de fato nessa questão, mas se eles se sentem a vontade para retratar a homofobia, porque não se sentem a vontade para tratar da questão do beijo e do romantismo gay em suas tramas.

A Rede Record, uma rede comandada por bispos da Igreja Universal, também inclui em suas tramas personagens gays. Em suas igrejas gays são criticados, tratados como pessoas passíveis de descarrego e cura espiritual, mas em suas tramas as personagens gays são abordadas. A questão para isso é simples: fatores econômicos. Ser uma empresa Gay-friendly é ser politicamente correta. Mas, o que não podemos admitir é a hipocrisia com que o tema é tratado nas tramas das novelas. A corrida para que as empresas se tornem Gay-friendly sem ofender os seus clientes heteros está cada vez mais competitiva. Recentemente assistimos uma propaganda muito bonita da pomada Nebacetin que causou revolta de consumidores fundamentalistas que prometeram usar outro produto com o mesmo principio ativo do produto. Essa discussão aconteceu na Comunidade do Orkut do Silas Mafalafia - O Pastor Ungido pelo Ódio, as empresas ficam nesse impasse, pois sabemos que o objetivo de toda empresa é o lucro, e muitas não hasteiam uma bandeira Gay-friendly por medo de um boicote de consumidores homofóbicos.

Na Inglaterra foi veiculado um comercial de uma maionese da marca Heinz que exibia um beijo gay. Consumidores revoltados ligaram para o departamento de marketing da empresa pedindo que retirasse o comercial de veiculação. Grupos de defesa LGBT se revoltaram, protestaram, mas nada adiantou, o pedido foi atendido e o comercial saiu do ar. Vemos que a resistência da homossexualidade na mídia não é um problema apenas aqui no Brasil, é um problema global. As empresas vêem os consumidores gays como um público-alvo forte, mas ficam divididas entre os dois pontos desse iceberg. Tenho certeza que muitas famílias não usam mais a maionese Heinz, é uma pena vermos tanta homofobia em torno de um assunto tão simples, a aceitação, a vida é única e intransferível.

Só sabemos que muitas mudanças ocorreram, o caminho para aceitação na mídia apenas começou. O que não podemos é partir para o conformismo, vermos casos isolados como a lei estadual que combate a homofobia em São Paulo, e aceitarmos como algo favorável. Sabemos que a lei não tem a aplicabilidade que ela deveria ter, ainda falta muita informação para as vitimas de homofobia. Recentemente foi noticiado o primeiro caso de punição da lei, mas sabemos que não foi o primeiro caso de homofobia em estabelecimentos comerciais. Mudanças estão ocorrendo, mas, em contrapartida, homossexuais estão morrendo, estão sendo assassinados e espancados, e a certeza da impunidade é o que motiva o crime. Sempre costumo dizer que a criminalidade no Brasil não se dá por conta das leis brandas, mas sim por conta de certeza da impunidade. É o caso da homofobia, não precisamos de leis rígidas, precisamos de leis que tenham aplicabilidade, apatir daí veremos mudanças no cenário do Brasil Homossexual.

* Marcos Freitas, 27 anos, idealizador do blog http://www.passageirodomundo.blogspot.com/

enviou o texto para a Redação do site A Capa

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