terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Delegado pede exames para investigar morte de 13 homossexuais

Fonte:

http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL915604-5605,00.html

Mortes ocorreram em parque de Carapicuíba entre 2007 e 2008.
Onze das vítimas podem ter sido mortas com mesma arma.

Marcelo Mora Do G1, em São Paulo

A Polícia Civil solicitou novos exames para tentar esclarecer uma série de assassinatos ocorrida no Parque dos Paturis, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Os 13 crimes aconteceram entre fevereiro de 2007 e agosto de 2008.

O delegado Paulo Fernando Fortunato, seccional de Carapicuíba, disse nesta segunda-feira (8) que das treze vítimas, apenas uma foi morta a pauladas. “Houve essa vítima e uma outra que levou tiros de pistola .380. As demais foram atingidas por tiros de um revólver calibre 38”, explicou.

Ao menos três delas foram alvejadas na cabeça e outras três no tórax. As demais, levaram tiros na nuca, na testa, no rosto e nas costas. O delegado diz que, só agora estão sendo feito os exames de balística. “Só depois desses exames é que teremos a certeza de que todas essas vítimas, com exceção dos que foram mortos por tiros de pistola e por pauladas, foram mortos com a mesma arma.”

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Segundo o delegado, todas as vítimas eram homossexuais, o que o leva a crer que um assassino em série tenha cometido os homicídios. “Estamos freqüentando o parque com policiais descaracterizados e vigiando à distância”, disse.

Ele contou que os peritos do IML que examinaram os corpos à época dos crimes não teriam encontrado sinais de esperma. “Isso significa que não houve o ato sexual, não houve penetração. Como as vítimas foram encontradas com as calças abaixadas, ele as executava nesse momento, antes de ter relação.”

Fortunato aproveitou a entrevista coletiva à imprensa para alertar a população. “O local é perigoso. É uma área toda aberta e de chão de terra. Todos estão cientes deste perigo”, afirmou. A Prefeitura de Carapicuíba informou, por meio de nota, que vai fazer todos os esforços para reforçar o patrulhamento no local.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Paternidade homoparental

Fonte:

site oficial de Maria Berenice Dias



Maria Berenice Dias

Desembargadora do Tribunal de Justiça-RS

Vice-Presidente Nacional do IBDFAM



As alterações ocorridas no modelo tradicional da sociedade não comprometeram os vínculos familiares nem acabaram com a família, que permanece sendo reivindicada como o único valor seguro ao qual ninguém quer renunciar.[1] Como bem diz Giselda Hironaka,[2] mudam os costumes, os homens e a história, só não muda a atávica necessidade de cada um de saber que, em algum lugar, se encontra o seu porto e seu refúgio, vale dizer o seio de sua família.

No contexto de um mundo globalizado, as pessoas passaram a viver em uma sociedade mais tolerante e, por se sentirem mais livres, partiram em busca da realização dos sonhos de felicidade, não se vendo premidas a permanecer dentro de estruturas preestabelecidas e asfixiantes. A preservação da liberdade de escolha e o direito de assumir os próprios desejos geraram a possibilidade de transitar de uma estrutura de vida para outra que pareça mais atrativa e gratificante. Essas mudanças cunharam um perfil diferenciado aos arranjos familiares, tornando imperiosa a busca de novos referenciais para albergar, no conceito de família, os vínculos distanciados da estrutura convencional imposta por uma sociedade conservadora, que reconhecia somente a união de um homem e uma mulher sacralizada pelos laços do matrimônio.

As realidades vivenciais, afastadas do selo da oficialidade, ainda que sem nome e sem lei, foram em busca de direitos, obrigações e reconhecimento. O sistema jurídico não resistiu às mudanças. A jurisprudência, por medo de comprometer a instituição do casamento, só conseguiu ver como uma sociedade de fato o que nada mais era do que uma sociedade de afeto, sem dar ouvido a João Baptista Villela: a teoria e a prática das instituições de família dependem, em última análise, de nossa competência em dar e receber amor.[3] Exclusivamente para impedir o enriquecimento ilícito, as relações extramatrimoniais eram tratadas como sociedades comerciais, determinando-se a repartição dos lucros, isto é, a divisão dos bens adquiridos no período de convívio. Em vez de invocarem o Direito de Família, socorriam-se os juízes do Direito das Obrigações, chamando de sócios quem se uniu por amor em busca de uma comunhão de vidas.

A Constituição Federal de 1988 foi sensível à nova realidade. A proteção assegurada histórica e unicamente ao casamento passou a ser concedida à família. Além do casamento, foram reconhecidas outras entidades familiares, ainda que elencadas somente a união estável entre um homem e uma mulher e a comunidade dos pais com seus descendentes. Sendo uma norma de inclusão, como registra Paulo Luiz Lôbo, a enumeração é meramente exemplificativa, o que não permite excluir qualquer entidade que preencha os requisitos da afetividade, estabilidade e ostensividade.[4] Assim, ainda que abrangente, não é exauriente o rol constitucional que não alberga todos os universos familiares merecedores de proteção. A convivência dos filhos que não contam com a presença dos pais, os avós ou tios que criam os netos e os sobrinhos não podem ficar fora do conceito de família. Também descabe excluir os relacionamentos de pessoas do mesmo sexo que mantêm uma relação pontificada pelo afeto, merecendo a denominação de uniões homoafetivas.[5]

A família desvinculou-se do modelo originário. O movimento de mulheres, a disseminação dos métodos contraceptivos e os resultados da evolução da engenharia genética romperam o paradigma: casamento, sexo e procriação. Caiu o mito da virgindade. A concepção não mais decorre exclusivamente do contato sexual, e o casamento deixou de ser o único reduto da conjugalidade.

O conceito de família precisou ser reinventado. As relações extramatrimoniais dispõem de assento constitucional, e as uniões homoafetivas vêm sendo reconhecidas pela jurisprudência[6] como entidades familiares.

A visão pluralista das relações interpessoais levou à necessidade de buscar a identificação de um diferencial para definir família. Não se pode deixar de ver no afeto o elo que enlaça sentimentos e compromete vidas, transformando um vínculo afetivo em uma entidade familiar. O afeto é que conjuga.[7] O envolvimento emocional, o sentimento do amor que aproxima almas, enlaça vidas e embaralha patrimônios, gerando responsabilidades e compromissos mútuos, revelam o nascimento de uma família, a merecer abrigo no Direito de Família.

Não só a família, mas também a filiação foi alvo de profunda transformação, o que levou a repensar as relações paterno-filiais e os valores que as moldam.[8] Das presunções legais se chegou à plena liberdade de reconhecimento de filhos e à imprescritibilidade da investigação dos pais. Tais foram as mudanças, que a Constituição acabou com a perversa classificação dos filhos, diferenciação hipócrita e injustificável, enfatiza Zeno Veloso, como se as crianças inocentes fossem mercadorias expostas em prateleiras de mercadorias, umas de primeira, outras de segunda, havendo, ainda, as mais infelizes, de terceira classe ou categoria.[9]

Se o afeto passou a ser o elemento identificador das entidades familiares é este o sentimento que serve de parâmetro para a definição dos vínculos parentais, levando ao surgimento da família eudemonista, espaço que aponta o direito à felicidade como núcleo formador do sujeito.[10]

A facilidade de descobrir a verdade genética, com significativo grau de certeza, desencadeou uma verdadeira corrida na busca da verdade real, atropelando a verdade jurídica, definida muitas vezes por meras presunções legais. À Justiça coube a tarefa de definir o vínculo paterno-filial quando a estrutura familiar não reflete o vínculo de consangüinidade. No confronto entre a verdade biológica e a realidade vivencial, a jurisprudência passou a atentar ao melhor interesse de quem era disputado por mais de uma pessoa. Prestigiando o comando constitucional, que assegura com absoluta prioridade o interesse de crianças e adolescentes, regra exaustiva e atentamente regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, passaram os juízes a investigar quem a criança considera pai e quem a ama como filho. O prestígio à afetividade fez surgir uma nova figura jurídica, a filiação socioafetiva, que acabou se sobrepondo à realidade biológica.

A moderna doutrina não mais define o vínculo de parentesco em função da identidade genética. A valiosa interação do Direito com as ciências psico-sociais ultrapassou os limites do direito normatizado e permitiu a investigação do justo buscando mais a realidade psíquica do que a verdade eleita pela lei. Para dirimir as controvérsias que surgem – em número cada vez mais significativo – em decorrência da manipulação genética, prevalece a mesma orientação. Popularizaram-se os métodos reprodutivos de fecundação assistida, cessão do útero, comercialização de óvulos ou espermatozóides, locação de útero, e todos viram a possibilidade de realizar o sonho de ter filhos.

Nesse caleidoscópio de possibilidades, os vínculos de filiação não podem ser buscados nem na verdade jurídica nem na realidade biológica. A definição da paternidade está condicionada à identificação da posse do estado de filho, reconhecida como a relação afetiva, íntima e duradoura, em que uma criança é tratada como filho, por quem cumpre todos os deveres inerentes ao poder familiar: cria, ama, educa e protege.[11]

Para evitar confronto ético, acabou sendo imposto o anonimato às concepções heterólogas, o que veda identificar a filiação genética. Mas essa verdade não interessa, pois o filho foi gerado pelo afeto, e não são os laços bioquímicos que indicam a figura do pai, mas, sim, o cordão umbilical do amor. A paternidade é reconhecida pelo vínculo de afetividade, fazendo nascer a filiação socioafetiva. Ainda segundo Fachin, a verdadeira paternidade não é um fato da Biologia, mas um fato da cultura, está antes no devotamento e no serviço do que na procedência do sêmen. [12]

Se a família, como diz João Baptista Villela, deixou de ser unidade de caráter econômico, social e religioso para se afirmar fundamentalmente como grupo de afetividade e companheirismo, o que imprimiu considerável reforço ao esvaziamento biológico da paternidade,[13] imperioso questionar os vínculos parentais nas estruturas familiares formadas por pessoas do mesmo sexo.

Não se pode fechar os olhos e tentar acreditar que as famílias homoparentais, por não disporem de capacidade reprodutiva, simplesmente não possuem filhos. Se está à frente de uma realidade cada vez mais presente: crianças e adolescentes vivem em lares homossexuais. Gays e lésbicas buscam a realização do sonho de estruturarem uma família com a presença de filhos. Não ver essa verdade é usar o mecanismo da invisibilidade para negar direitos, postura discriminatória com nítido caráter punitivo, que só gera injustiças.

As situações são várias, cabendo lembrar as que surgem com mais freqüência. Após a separação com prole, o pai ou a mãe que tem a guarda dos filhos resolve assumir sua orientação sexual e passa a viver com alguém do mesmo sexo. O companheiro do genitor não é nem pai nem mãe dos menores, mas não se pode negar que a convivência gera um vínculo de afinidade e afetividade. Não raro o parceiro participa da criação, desenvolvimento e educação das crianças, passando a exercer a função parental.

Outra opção cada vez mais comum é um do par se submeter à reprodução assistida. Este será o pai ou a mãe. O parceiro ou parceira, que não participou do processo reprodutivo, fica excluído da relação de parentesco, ainda que o filho tenha sido concebido por vontade de ambos. Os gays utilizam esperma de um ou de ambos, e, realizada a fecundação in vitro, a gestação é levada a termo por meio do que se passou a chamar de barriga de aluguel. As lésbicas muitas vezes optam pela utilização do óvulo de uma, que, fecundado em laboratório, é introduzido no útero da outra, que leva a gestação a termo. Nessas hipóteses, o pai ou a mãe biológica é somente um deles, ainda que o filho tenha sido concebido por amor, processo do qual participaram os dois.

A adoção vem sendo incentivada por campanhas, como modalidade de amenizar o grave problema social das crianças abandonadas ou institucionalizadas. A esse apelo só pode responder um dos parceiros. No entanto, mesmo sendo adotada por um, a criança vai ter dois pais ou duas mães.

Em todas essas hipóteses, permitir que exclusivamente o pai (biológico ou adotante) tenha um vínculo jurídico com o filho é olvidar tudo que a doutrina vem sustentando e a Justiça vem construindo: a tutela jurídica dos vínculos afetivos, pois não é requisito indispensável para haver família que haja homem e mulher, pai e mãe, como lembra Sérgio Resende de Barros.[14]

A maior visibilidade e melhor aceitabilidade das famílias homoafetivas torna impositivo o estabelecimento do vínculo jurídico paterno-filial com ambos os genitores, ainda que sejam dois pais ou duas mães. Vetar a possibilidade de juridicizar a realidade só traz prejuízo ao filho, que não terá qualquer direito com relação a quem exerce o poder familiar, isto é, desempenha a função de pai ou de mãe. Presentes todos os requisitos para o reconhecimento de uma filiação socioafetiva, negar sua presença é deixar a realidade ser encoberta pelo véu do preconceito.

Existindo um núcleo familiar, estando presente o elo de afetividade a envolver pais e filhos, a identificação da união estável do casal torna imperioso o reconhecimento da dupla paternidade. Para assegurar a proteção do filho, os dois pais precisam assumir os encargos do poder familiar. Como lembra Zeno Veloso, o princípio capital norteador do movimento de renovação do Direito de Família é fazer prevalecer, em todos os casos, o bem da criança; valorizar e perseguir o que melhor atender aos interesses do menor (favor filii).[15]

A enorme resistência em aceitar a homoparentalidade decorre da falsa idéia de que são relações promíscuas, não oferecendo um ambiente saudável para o bom desenvolvimento de uma criança. Também é alegado que a falta de referências comportamentais pode acarretar seqüelas de ordem psicológica e dificuldades na identificação sexual do filho. Mas estudos realizados a longo tempo mostram que essas crenças são falsas. O acompanhamento de famílias homoafetivas com prole não registra a presença de dano sequer potencial no desenvolvimento, inserção social e sadio estabelecimento de vínculos afetivos. Ora, se esses dados dispõem de confiabilidade, a insistência em rejeitar a regulamentação de tais situações só tem como justificativa uma indisfarçável postura homofóbica.

Está na hora de acabar com a hipocrisia.

Negar a realidade, não reconhecer direitos só tem uma triste seqüela: os filhos são deixados a mercê da sorte, sem qualquer proteção jurídica. Livrar os pais da responsabilidade pela guarda, educação e sustento da criança é deixá-la em total desamparo. Há que reconhecer como atual e adequada a observação de Clovis Bevilaqua[16] ao visualizar um misto de cinismo e de iniqüidade, chamando de absurda e injusta a regra do Código Civil de 1916 que negava reconhecimento aos filhos adulterinos e incestuosos.

Outra não é a adjetivação que merecem os dispositivos do Projeto de Lei da Parceria Civil Registrada, de nº 1.151/95, e do Pacto de Solidariedade, de nº 5.252/2002, que vedam quaisquer disposições sobre adoção, tutela ou guarda de crianças ou adolescentes em conjunto, mesmo que sejam filhos de um dos parceiros ou pactuantes. Cabe repetir as palavras indignadas de Cimbali: Estranha, em verdade, a lógica desta sociedade e a justiça destes legisladores, que, com imprudente cynismo, subvertem, por completo, os mais sagrados principios da responsabilidade humana.[17]

Agora, pelo jeito, se está chamando de espúrio o filho pelo simples fato de, em vez de um pai e uma mãe, ter dois pais ou duas mães. Quem sabe a intenção é arrancá-lo de sua família, que, como toda família, é amada, sonhada e desejada por homens, mulheres e crianças de todas as idades, de todas as orientações sexuais e de todas as condições.[18]

Para o estabelecimento do vínculo de parentalidade, basta que se identifique quem desfruta da condição de pai, quem o filho considera seu pai, sem perquirir a realidade biológica, presumida, legal ou genética. Também a situação familiar dos pais em nada influencia na definição da paternidade, pois família, como afirma Lacan, não é um grupo natural, mas um grupo cultural, e não se constitui apenas por um homem, mulher e filhos, conforme bem esclarece Rodrigo da Cunha Pereira: a família é uma estruturação psíquica, onde cada um de seus membros ocupa um lugar, desempenha uma função, sem estarem necessariamente ligados biologicamente. Assim, nada significa ter um ou mais pais, serem eles do mesmo ou de sexos diferentes.

Mais uma vez o critério deve ser a afetividade, elemento estruturante da filiação socioafetiva, pois, como diz Giselle Groeninga, a criança necessita de pais que transmitam a verdade dos afetos.[19] Não reconhecer a paternidade homoparental é retroagir um século, ressuscitando a perversa classificação do Código Civil de 1916, que, em boa hora, foi banida em 1988 pela Constituição Federal.

Além de retrógrada, a negativa de reconhecimento escancara flagrante inconstitucionalidade, pois é expressa a proibição de quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. As relações familiares são funcionalizadas em razão da dignidade de cada partícipe,[20] e a negativa de reconhecimento da paternidade afronta um leque de princípios, direitos e garantias fundamentais, como o respeito à dignidade, à igualdade, à identidade. Não se pode esquecer que crianças e adolescentes têm, com absoluta prioridade, direito à vida, à saúde, à alimentação, à convivência familiar, e negar o vínculo de filiação é vetar o direito à família: lugar idealizado onde é possível, a cada um, integrar sentimentos, esperanças e valores para a realização do projeto pessoal de felicidade.[21]



(Artigo publicado na obra coletiva Direito de Família e Psicanálise – rumo a uma nova epistemologia, Imago Editora, Rio de Janeiro, 2003, p. 269/275 e no CD-ROM CD Jurídico, Editora IRD, Poços de Caldas - MG, janeiro de 2004).

[1] ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2003, p. 198.

[2] HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Família e casamento em evolução. Direito Civil: estudos. Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 21.

[3] VILLELA, João Baptista. As novas relações de família. Anais da XV Conferência Nacional da OAB. Foz do Iguaçu, set. 1994, p. 645.

[4] LÔBO, Paulo Luiz Netto. Identidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus clausus. Anais do III Congresso Brasileiro de Direito de Família. Belo Horizonte, 2002, p. 95.

[5] Expressão cunhada pela autora na obra intitulada União Homossexual: o preconceito e a justiça. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000.

[6] No julgamento da Apelação Cível nº 70001388982, a Sétima Câmara Cível do TJRS, Relator o Des. José Carlos Teixeira Georgis, pela primeira vez concedeu direitos hereditários ao parceiro sobrevivente, orientação que vem sendo adotada por outros tribunais.

[7] BARROS, Sérgio Resende de. A ideologia do afeto. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre: Síntese, Jul-Ago-Set. 2002, v. 14, p. 9.

[8] ALMEIDA, Maria Cristina de. DNA e estado de filiação à luz da dignidade humana. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 179.

[9] VELOSO, Zeno. Direito brasileiro da filiação e paternidade. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 90.

[10] CARBONERA, Silvana Maria. O papel jurídico do afeto nas relações de família. Anais do I Congresso de Direito de Família, Belo Horizonte, 1988, p. 486.

[11] NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras. A filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica, 2001, p. 85.

[12] FACHIN, LuizEdson. Família hoje. A nova família: problemas e perspectivas. Vicente Barreto (Org.), Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p. 85.

[13] Villela. João Baptista. Desbiologização da Paternidade. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, nº 21, 1979, p.404.

[14] BARROS, Sérgio Resende de. A ideologia do afeto. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre: Síntese, Jul-Ago-Set. 2002, v. 14, p. 9.

[15] VELOSO, ZENO. Direito brasileiro da filiação e paternidade. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 180.

[16] BEVILAQUA, Clovis. Código Civil, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1941, v. II, p. 329.

[17] in BEVILAQUA, op. loc. cit.

[18] OUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2003, p. 198.

[19] GROENINGA, Giselle. O secreto dos afetos – a mentira. Boletim do IBDFAM, nº 19, mar/abr 1993, p. 7.

[20] GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito de Família e o novo Código Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2ª ed. 2001, p. 93.

[21] HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Família e casamento em evolução. Direito Civil: estudos. Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 21.

Especial: Pesquisadores da USP estudam novo método de prevenção a Aids

Fonte:

http://www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=6460

Por Marcelo Hailer 1/12/2008 - 12:42

Segundo o censo epidemiológico de 2008 do programa brasileiro DST/AIDS, o Brasil tem hoje 640 mil pessoas infectadas com o vírus HIV, sendo que, um dado preocupante foi revelado: a maior o número de novos casos cresceu entre homens heterossexuais acima de 50 anos. Para conter o avanço da epidemia, novas estratégias de prevenção vem sendo estudadas. Entre elas os microbicidas, a circuncisão e, mais recentemente, a profilaxia pré-exposição.

"Os números da epidemia ainda são muito altos no mundo e tem se pensado em novas estratégias de prevenção. Vai levar muitos anos para termos uma vacina que funcione. Por isso, hoje tem se pensado na questão da 'Profilaxia Pré-Exposição', de se usar um medicamento que possa complementar o sexo seguro e prevenir a infecção nas populações mais vulneráveis", diz Ricardo Gambôa, coordenador de recrutamento e retenção do estudo iPrEx (iniciativa Profilaxia Pré-Exposição), que acontece na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Trata-se de um estudo de um comprimido complementar à prevenção do vírus da AIDS.

Ricardo conta que a equipe vem se preparando para o início do estudo desde o ano passado. A respeito do remédio, o Truvada, Ricardo explica que se trata de "um comprimido composto por dois medicamentos: Entricitabina e Tenofovir. Um estudo com o Tenofovir foi feito com mulheres na África e teve um número bastante positivo em termos de prevenção, cerca de 70%".

Já em fase de teste com animais, o remédio tem obtido resultados positivos . "O uso do Truvada nos animais impediu em 100% dos casos que eles fossem infectados por um vírus semelhante ao HIV". Ricardo Gambôa revela também que o medicamento já é aprovado e usado para o tratamento anti-retroviral. "Estamos fazendo esse estudo justamente pra confirmar se ele impede a infecção, além de testar a segurança quando tomado por pessoas saudáveis".

Gueto medicinal
Ricardo Palacios, médico especialista em infectologia e um dos coordenadores do protocolo iPrEx, diz que além do objetivo de se chegar a um remédio "é desmistificar a doença também por parte do pessoal de saúde. Nós enquanto pesquisadores da saúde não concordamos que devemos colocar infecção por HIV/Aids como se fosse uma doença de um gueto especifico, mas sim que deve ser atendido como qualquer outra patologia".

O infectologista revela que este foi um dos motivos que fez o grupo trazer tal estudo para o Brasil. "Quando nós trouxemos a nossa pesquisa pra a Universidade de São Paulo (USP) não era a nossa idéia tratar dessa questão [Aids] numa casinha a parte, queríamos que esse protocolo estivesse no mesmo prédio onde são tratados todos os pacientes do Hospital das Clínicas (HC)". Assim, Palacios acredita que irá quebrar preconceito ao fazer uma travesti sentar em uma sala de espera ao lado de uma senhora que veio tratar de hipertensão. "Fazemos isso porque não acreditamos em gueto", afirma.

Profilaxia
A respeito da profilaxia pré-exposição, Ricardo diz que o estudo não é algo novo e que surgiu a partir da idéia da profilaxia pós-exposição. "Acidentes que aconteciam com trabalhadores da saúde. Por exemplo, um cirurgião se cortava durante uma cirurgia, uma enfermeira que se furava com uma agulha durante a aplicação. Esses acidentes demonstravam que havia exposição em potencial por HIV. Com a profilaxia pós-exposição, a infecção por acidentes reduziu 70%", avalia.

A partir daí médicos começaram a se questionar a respeito da profilaxia pré-exposição ao vírus. "Nós começamos há três anos nos posicionar no sentido de que a exposição de uma pessoa com acidente de trabalho comparado com a pessoa que está exposta sexualmente é muito menor". Segundo Ricardo, "é mais fácil você ser infectado por exposição sexual. Então, se começa a trabalhar a idéia de: por que não aplicar a profilaxia às pessoas que tiveram uma exposição sexual com o risco de ser infectada por HIV?".

O infectologista argumenta que se uma pessoa se expõe "ao longo do ano 30, 40 vezes, a pergunta é: não da para fazer o contrário, tomar o medicamento antes da exposição? Nesse grupo muito particular de pessoas [profissionais do sexo e pessoas que às vezes não usam camisinha] que, em razão de sua vulnerabilidade ainda não conseguem controlar a quantia de exposição, não seria indicado mais uma forma para que ela possa se proteger?". O médico faz questão de enfatizar que a camisinha é a maneira mais segura de se proteger.

Prevenção e preconceito
É sabido por todos que a Igreja Católica é uma das vozes mais ferozes contra o uso da camisinha. Questionado se sua equipe teme represálias dos setores religiosos, Ricardo diz que espera "uma reação igual a qualquer método anticoncepcional. Vão dizer que estamos incitando a promiscuidade, é uma reação natural, não tem saída".

A discussão se estende também a médicos e cientistas. "Há médicos que dizem ser uma incitação a promiscuidade, e também que é um comprimido que vai proteger contra o HIV, mas não vai proteger contra a sífilis, contra a gonorréia, que não vai proteger contra todas as outras DSTs e é verdade. Mas fazemos questão de deixar claro que, sem a camisinha, o remédio é um fracasso", pontua Ricardo.

Sobre o estudo ser focado em gays, bissexuais, homens que fazem sexo com homens, travestis e transexuais, Ricardo explica que "há muitos protocolos de profilaxia pré-exposição que estão acontecendo no mundo e a maior parte deles atendem a população de mulheres heterossexuais". Assim, conclui que "não há necessidade de repetir os estudos que estão acontecendo em outros lugares, e tem também a questão da necessidade específica de cada país, são vulnerabilidades diferentes".

Campanha e voluntários
Ricardo Gambôa conta que já estão com o material gráfico pronto para a campanha que pretende atrair voluntários para o teste do remédio. Apenas esperam sinal verde do comitê de ética. "Estes materiais serão distribuídos em algumas casas noturnas, bares, lanchonetes que fiquem dentro das regiões de freqüência de nosso público-alvo", revela Ricardo que conta com a colaboração de Silvetty Montila, Bill da Pizza e Dindry Buck.

"A campanha é para chamar as pessoas a participarem de um estudo em pesquisa. No Brasil não existe uma cultura de participação como voluntários em ensaios clínicos", diz Gambôa. Sobre números de participantes, Ricardo diz que para esse estudo "se estipulou 600 pessoas para o Brasil. Dessas 600, 400 são do Rio de Janeiro onde há dois centros que estão tocando esse estudo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Fundação Oswaldo Cruz. Em são Paulo, serão 200 voluntários no Centro de Pesquisas da Faculdade de Medicina da USP".

Se você se interessou e quer ser voluntário, o site do estudo pode ser visitado no endereço www.iprex.org.br.

"A função da lei não é apenas punir, mas prevenir", diz autor da lei anti-homofobia paulista

Disponível em:

http://www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=6225

Por Marcelo Hailer 5/11/2008 - 15:21

Renato Simões exerceu três mandatos enquanto deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores em São Paulo. Em sua última atuação como parlamentar teve aprovada e sancionada a lei 10.948 pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), considerada hoje a principal conquista do movimento LGBT do estado paulista.

A lei pune administrativamente estabelecimentos públicos e privados e pessoas que cometam atos discriminatórios contra homossexuais. Hoje, cinco de novembro, completa sete anos de existência. Começou a ganhar a mídia e notoriedade após o caso de Justo Favaretto, que ganhou em última instância indenização de R$14 mil por ser chamado de "viado". A lei também foi responsável por duas condenações sofridas pelo mercado Carrefour.

A respeito de sua real significância para a comunidade LGBT, Renato Simões, hoje Secretário dos Movimentos Sociais e Políticas Setoriais do PT , respondeu algumas perguntas ao site A Capa. Aqui, ele fala se a lei fez a homofobia diminuir, se é pouco divulgada e também dá sua opinião sobre o PLC 122.

Quando o senhor apresentou o Projeto de Lei, acreditava que fosse passar pela Alesp (Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo) e ser sancionado pelo ex-governador Alckmin?
Sabíamos das dificuldades de aprovar legislações contra a homofobia numa casa conservadora como a Alesp. O governo e a base aliada tinha sido desafiada a um balanço do que foi efetivamente realizado dos compromissos do Programa Estadual dos Direitos Humanos. A III Conferência Estadual de Direitos Humanos levantou um saldo profundamente negativo no que diz respeito às políticas de garantia de direitos dos LGBT. Adotamos uma estratégia parlamentar combinada com o movimento social de baixo perfil, sem grandes alardes que pudessem criar uma polarização com as bancadas mais retrógradas. E aprovamos a matéria dessa forma, numa negociação entre os líderes partidários do final do ano legislativo de 2001, já com o compromisso da Secretaria de Justiça de defender a sanção do projeto, caso aprovado.

A lei foi fruto de uma articulação entre o senhor e o movimento. Gostaria que comentasse um pouco a respeito dessa articulação.
A partir do momento em que constatamos a omissão do Programa Nacional de Direitos Humanos em relação ao tema dos direitos LGBT e a falta de cumprimento das políticas estaduais contidas no Programa Estadual desde 1997, decidimos ingressar com uma bateria de projetos de leis de competência estadual sobre vários temas: a criação do Conselho Estadual; a legislação sobre os direitos dos/as funcionários/as públicos/as em relação estável; o estabelecimento de datas, como a do Orgulho Gay, da Visibilidade Lésbica e Contra a Homofobia, e esta que pune a homofobia. Ela veio no embate pela criminalização da homofobia, que é matéria federal, mas foi adaptada para punições administrativas compatíveis com a competência estadual, como as advertências, multas e punições a estabelecimentos privados ou órgãos públicos que violam os direitos nela contidos. A aprovação dos pareceres nas comissões temáticas favoráveis ao projeto e a votação em plenário foram acompanhadas pelo movimento, sempre numa atitude mais reservada porém firme na defesa dos seus direitos.

Acredita que desde que a lei foi aprovada, há sete anos, tem sido benéfica aos LGBT?
Acredito que sim. Graças a ela, o tema da homofobia ganhou uma resposta do Estado e casos anteriormente escondidos ganharam publicidade a partir de sanções impostas pela Comissão Especial criada na Secretaria de Justiça do Estado. A visibilidade das atitudes homófobas encorajou vítimas a defenderem seus direitos, a denunciarem as violações e a ganhar parcelas da opinião pública para a solidariedade com os/as que lutam por seus direitos.

A lei é mal divulgada?
Infelizmente sim. Nosso mandato publicou cerca de 1 milhão de exemplares distribuídos nas Paradas do Orgulho Gay em São Paulo, várias entidades do movimento LGBT imprimiram seu texto e orientações de como utilizar a lei, mas a resposta do Estado ainda é muito tímida. A própria lei prevê obrigações do Estado em divulgar amplamente o conteúdo da lei, mas ela ainda permanece desconhecida de muitos órgãos públicos que têm obrigação de orientar as pessoas sobre seus direitos, como as escolas, postos de saúde, delegacias de polícia, entre outras.

Falta a comunidade LGBT se apropriar da lei?
Creio que este é um processo que vem crescendo. Mais gente aciona a lei em defesa de seus direitos, conquistas repercutem, mais gente se anima a denunciar ou promover a lei. Muitos ainda pensam que diante da violação de direitos o mais adequado é o silêncio, a sujeição por vários motivos – o medo, a vergonha, o descrédito de que justiça possa ser feita... Mas, como disse, esse é um processo sem volta, e crescente.

Como o senhor vê estabelecimentos como o Carrefour (punido duas vezes pela lei 10.948) serem condenados?
É muito importante que não só pessoas físicas, mas empresas e órgãos públicos sejam condenados por violações de seus/suas agentes, pois a homofobia não é uma atitude meramente individual. Há um ambiente coletivo e institucional que encoraja esse tipo de comportamento. No caso de empresas privadas, em particular quando o(a) agressor(a) é da segurança da empresa, a condenação mostra que a política corporativa deve ser modificada, pois denota uma orientação equivocada que precisa ser corrigida. E a função da lei não é apenas punir, mas prevenir a homofobia.

O Estado de São Paulo conta com esta lei que, limitada ou não, protege de alguma maneira a população LGBT. Então, gostaria de saber do senhor por que o congresso federal não consegue aprovar o PLC 122?
Acredito que o PLC 122 encontra uma resistência muito grande porque seu alcance é com certeza maior que a da Lei 10.948. Criar um tipo penal para a homofobia é uma tarefa muito árdua, e valorizo a ação dos(as) parlamentares que estão dedicados(as) a esta tarefa. Além disso, o sucesso de leis como a 10.948 também criou uma maior articulação da direita e de setores religiosos fundamentalistas contra avanços na lei federal. Aqui mesmo em São Paulo, é bom lembrar que já derrotamos dois projetos de lei revogando a lei 10.948, de deputados que não se reelegeram – Afanásio Jazadji (DEM) e Daniel Marins (PP) - mas ainda há um terceiro em andamento de autoria do vice-presidente da Assembléia Legislativa, Waldir Agnello (PTB), que lidera o lobby evangélico da Alesp pela revogação da Lei. Por isso, além de lutar por avanços, é preciso que o movimento LGBT não perca de vista a necessidade de preservar as conquistas, vira e mexe ameaçadas por projetos desta natureza.

Efetivamente, a lei estadual diminuiu a homofobia no Estado de São Paulo?
Não temos indicadores para avaliar. As estatísticas oficiais sempre foram de total inoperância para estimar atos homofóbicos em São Paulo e no Brasil. O que se pode avaliar é que vem crescendo o número de denúncias, e que estas vêm sendo tratadas seriamente na Comissão Especial criada para aplicar a Lei 10.948. Mas ainda há muito que se buscar para evitar a homofobia e puni-la exemplarmente quando esta ocorrer.

A polícia militar de São Paulo está preparada para realizar B.Os dentro dessa lei?
Com certeza não, como de resto também não está preparada a Polícia Civil. Movimentos LGBTs vêm sendo convidados para palestras nas Academias de Polícia e para encontros com autoridades policiais. Mas é muito comum que posturas como a homofobia, o sexismo, o racismo, o preconceito de classe se expresse nas repartições policiais quando vitimas de violação de seus direitos ali buscam o registro de suas queixas. Esta pauta é importante para os movimentos LGBT e de direitos humanos em geral, e com certeza poderia ser tratada na I Conferência Nacional de Segurança Pública convocada pelo governo federal para o início de 2009.

Para militante Julian Rodrigues, direitos gays são a última fronteira da cidadania

Falta a última fronteira da cidadania

Ulysses Guimarães tinha razão. A Carta constitucional promulgada em outubro de 1988 constitui-se num marco histórico, entre outras razões, porque trouxe novos paradigmas e metas bastante ousadas, que apontam na direção de uma sociedade mais igualitária e democrática. Fruto de um momento especial de ascensão dos movimentos sociais e da luta pela democratização, a "Constituição cidadã" é muito melhor do que os seus detratores tentaram nos fazer crer nas últimas duas décadas.

Da desqualificação de Sarney ("a Constituição torna o país ingovernável), passando pela fúria liberal de Collor (recordemo-nos do "emendão", que praticamente instituía outra Carta), até o período FHC (que retirou parte importante dos mecanismos de regulação do mercado, direitos sociais e garantia da própria soberania nacional), a Carta de 1988 foi vítima de ataques dia sim, dia não, dos conservadores de todas as matizes e da grande mídia.

É fácil de entender. Além de um capítulo fortíssimo e progressista no âmbito dos direitos e garantias individuais, a Constituição de 1988 ousou muito na política social, ambiental e nos direitos trabalhistas. O rumo apontado para a universalização da saúde pública (SUS), para a educação, para a seguridade social, para o meio ambiente, para os direitos humanos, para a garantia dos direitos das mulheres, dos negros, dos indígenas, das crianças e adolescentes inscreveu na sociedade brasileira um novo patamar. Mesmo num ambiente político e ideológico de hegemonia conservadora (década de 1990), muito se avançou em termos de legislação infraconstitucional no que tange à garantia de direitos e às políticas sociais e de combate à discriminação.

Uma lacuna e um déficit

Apesar da formulação categórica dos artigos 3º e 5º - que vedam qualquer tipo de discriminação - a Constituição de 1988 ficou com uma lacuna importante ao não mencionar, explicitamente, a proibição da discriminação por orientação sexual.

Ou seja, há sim uma base igualitária na Constituição Federal, que não permite nenhum tipo de discriminação e não impede que cidadãos ou cidadãs homossexuais tenham seus direitos reconhecidos. Não existe, portanto, nenhuma base para sustentar que milhões de pessoas devam se sujeitar a uma série restrições legais.

Por outro lado, como já mencionado, a Carta de 1988 não inscreveu em seu texto a questão da não discriminação por orientação sexual e identidade de gênero - embora essa demanda tenha sido pautada pelo então incipiente movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), principalmente através de João Antonio Mascarenhas, um dos principais ativistas da história desta luta. Infelizmente, a proposição não foi vitoriosa, mesmo com apoios importante como o do deputado federal José Genoino (PT-SP).

A nova Carta, desta forma, absorveu uma série de demandas dos movimentos sociais, mas o ambiente político e cultural da época não permitiu que os direitos das minorias sexuais ficassem formal e explicitamente assegurados.

Mas o princípio fundamental da não discriminação (de qualquer espécie) e o objetivo de assegurar uma sociedade justa, livre e igualitária já são mais que suficientes para indicar ao Congresso Nacional e à sociedade brasileira que é preciso formular e implementar mecanismos que reconheçam à cidadania plena à população LGBT e que combatam a homofobia.

Neste sentido, o parlamento brasileiro tem uma dívida importante com milhões de pessoas, pois, 20 anos depois da promulgação da Constituição, ainda não temos nenhuma lei que diga respeito à cidadania desta população, historicamente tão discriminada. Na prática, temos um déficit de democracia, pois milhões de pessoas, no Brasil de 2008, têm dezenas de direitos negados apenas porque tem uma orientação sexual diferente da maioria, ou porque têm uma identidade de gênero diferente de seu sexo biológico (travestis e transexuais). Na prática, um dos preceitos fundamentais da nossa Lei Maior está sendo descumprido.

Atravessar a última fronteira dos direitos civis

O não-reconhecimento legal da população LGBT, macula a construção democrática no Brasil. É urgente que o Congresso e o Judiciário façam valer os já referidos artigos constitucionais que impedem qualquer tipo de discriminação.

As lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais não têm, ainda, seus direitos civis reconhecidos, como o direito à união estável, adoção como casal ou à proteção de suas famílias. Também não contam com nenhuma lei federal que proíba a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero.

Talvez essa seja a última fronteira a atravessar para incluir milhões de pessoas na democracia que vimos, a duras penas, construindo. Diferentemente do que já aconteceu no caso das mulheres ou dos negros/as, a população LGBT não é reconhecida legalmente e, na prática, tem uma cidadania de segunda categoria. A pauta dos direitos dos LGBT é questão emergente em diversos países, não só na Europa, mas na América Latina, onde vários países vizinhos já avançaram nesta questão.

Um dos obstáculos a superar para atravessar essa última fronteira dos direitos civis é neutralizar os discursos fundamentalistas religiosos que pretendem, a todo o momento, influir nas decisões do Congresso e do Judiciário embasados em interpretações teológicas tacanhas e discriminatórias da Bíblia cristã.

Ora, mas o Estado brasileiro é laico e a fé é questão privada, de foro íntimo. A contrapartida da ampla liberdade de crença é a observação rigorosa do princípio da laicidade. Uma determinada crença religiosa não pode agir como força política reacionária que imponha a discriminação a milhões de outros cidadãos.

Ficam, assim, as perguntas. Até quando milhões de pessoas terão seus direitos negados pelo Estado brasileiro? Será que apenas oposição de setores fundamentalistas religiosos (barulhentos, mas minoritários) justifica essa inércia do Congresso Nacional?

Já é mais do que urgente a aprovação das leis que reconheçam os direitos desta população que paga impostos e vota, mas é ignorada pelo nosso sistema legal.

Até quando esperar?

Julian Rodrigues*, licenciado em Letras e especialista em economia do trabalho, é ativista do movimento LGBT de São Paulo, membro do Instituto Edson Neris e do Fórum Paulista LGBT. É também consultor da ABGLT para questões legislativas.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Força no "bate-cabelo", Vick Power !

Por "Yekhezel and my soul"

Para que os visitantes do blog possam conhecer um pouco mais do trabalho dessa nova colaboradora, nada melhor que um vídeo dela em ação,rss.
Show de Vick Power / Athlétic club-São João del rei.MG

domingo, 16 de novembro de 2008

Vick Power, considerações sobre seu trabalho como drag queen, e dos demais atuantes desse meio artístico

Por: Vick Power

"Como personagem da noite paulistana há cinco anos apenas, nunca sofri e nem fui vítima de pré-conceitos. Já realizei vários trabalhos em casas heterossexuais, e sempre fui recebida com o maior respeito. Hoje em dia nosso trabalho é visto como artístico, e quando é realizado bem feito, com todo um contexto envolvido, quebram-se tabus; desde que não haja promiscuidade envolvida se ganha respeito, liberdade de expressão, e até mesmo muitas portas se abrem para você.

É o caso de alguns artistas da noite paulistana, que sempre realizaram trabalhos bem feitos, e levaram com seriedade aquilo que buscavam como já vimos... algumas drags que se destacaram na televisão em alguns programas... isso se fez após de muito trabalho, [com] dignidade e persistência, como qualquer outro hétero [ou não], ou seja: capacidade todos tem, independente de cor, raça, sexo.
Acredito que o pré-conceito está por um fio de se acabar nas próximas décadas... expectativas futuras."

O que significa Drag Queen?

Por: Vick Power


Bem, pra muitos seria... A rainha dos vestidos... Para outros, rainha do dragão... rss...
mas a verdade veio a tona , quando as “bicharadas” na década de 80 resolveram se travestir de uma forma absurdamente exagerada de mulher ... Daí por diante a palavra composta "drag queen” nada mais é que a caricatura exagerada da mulher... Cores de sombras fortes, maquiagens coloridas e carregadas, cílios postiços enormes, figurinos escalafobéticos, plumas e paetês foram matérias primas essenciais para deixar composto um personagem das noites...
Foi uma maneira de chamar atenção, para expor as fantasias... Sonhos... e desejos, personagens que se criaram para agradar e divertir as baladas da noite a fora . Uma nova identidade surgiu, um novo personagem... Com o passar de décadas até os dias de hoje a drag queen foi se atualizando... se modernizando cada dia mais ..e realmente foi vista como trabalho artístico pelas pessoas,uma forma divertida para se ganhar dinheiro e até mesmo fazer carreira !!
Com o passar dos anos, abriu-se um leque extenso de diversas identidades e de modelos de drag queen. Como por exemplo:

  • Top drag: aquela que é fashion! Faz um belo carão, make moderna e feminina.
  • Andrógena: aquela que faz make mais agressiva, de personalidade masculinizada e meio feminina, uma mistura de sexos em um personagem só, que usa e abusa de figurinos mais psicodélicos e até mesmo robóticos.
  • Drag caricata: aquela que se parte para o lado humorístico, com make carregadas, figurinos exagerados e mais cômicos.


São alguns exemplos de drags que a cada dia que passa sempre se renova e surge um tipo diferente na noite. Ser drag é ser contagiante, irradiante, alegre, escândalo e festa ao mesmo tempo... é contagiar e ferver para sempre estar alegrando e interagindo em meio a multidões .

domingo, 9 de novembro de 2008

Maitê Schneider

Entrevista publicada em:14/01/2002, no site:

www.fervo.com.br

Maitê Schneider está em todas! A transexual é um dos ícones do movimento GLBTS brasileiro, matéria de diversas revistas e jornais. Ela ficou famosa nacionalmente ao aparecer ao lado de Marta Suplicy em cartazes espalhados na cidade de São Paulo nas eleições municipais de 2000. Além de conhecida e engajada, Maitê também é linda. Foi Miss Brasil versão travesti no ano 2000, capa de diversas revistas destinadas aos admiradores das transgêneros.

Fervo.com.br - No seu último Artigo - Camisinha? Eu? - , você constata que muitos dos gays estão perdendo o hábito de usar camisinhas nas suas relações sexuais. Estes dados são ainda mais fortes entre os jovens. Atualmente, temos o bareback que chega a ser uma filosofia de vida, quando a camisinha pode ser abolida por completo das relações sexuais. Na sua opinião, o que leva a esta tendência? Por quê os nossos jovens se preocupam menos com a sua saúde e não tentam evitar o contato com as DSTs (doenças sexualmente transmissíveis)?


Maitê Scnneider: Na verdade, o que acontece é que nos dias de hoje, a juventude acha que a AIDS, que era o terror da minha época de adolescência, deixou de ser algo tão terrível. Doenças sexualmente transmissíveis, as DSTS, nunca foram vistas como empecilho para o não uso do preservativo. Com a AIDS, que era sinônimo quase que de morte garantida na minha adolescência, a gente se obrigou a usar preservativo... e continua usando até os dias de hoje. O problema é que a nova geração apareceu numa época em que vários testes de vacinas e promessas de curas estão sendo mostradas. Hoje em dia, a AIDS não significa mais morte... então os jovens a consideram como outra DST qualquer... e deixam de lado o preservativo. Pensam: "Se eu pegar AIDS, não tem problemas.. tomo medicação e pronto.. vivo sadio". Mas não é assim ainda. Temos que nos cuidar SEMPRE. Prazer nenhum vale o risco e o incômodo de uma DST. Camisinha sempre sim - seu passaporte para um prazer prolongado e por muito mais tempo - com saúde.

Fervo - Você afirmou em uma entrevista cedida ao site No que só foi conhecer o preconceito quando iniciou o seu trabalho de engajamento político. Recentemente você fez um cursinho pré-vestibular e teve contato diário com um grande número de adolescentes. Como foi esta experiência?


Maitê: Como tudo na vida, teve seu lado bom. Lógico que passei por uma série de "barreiras". Mas quem nasce remando contra a maré, cria forças para enfrentar qualquer barreira e obstáculo, estou certa? Não queriam deixar que eu usasse o banheiro feminino, houve momentos de chacotas e constrangimentos, professores que não entendiam muito bem o que estava acontecendo, carteirinha com nome masculino, enfim, estas coisinhas básicas, as quais já me acostumei. Por outro lado, aos poucos, como faço amizades facilmente, fui cativando o pessoal que convivia comigo nas fileiras próximas... e assim fui subindo fila por fila. No final fiquei BEM conhecida no cursinho todo, levei muita gente para conhecer várias boates GLS da cidade e acho que mostrei um pouquinho que no fundo sou mais igual por dentro do que pareço por fora.

Fervo - Continuando ainda na temática do preconceito, na minha academia, há uma travesti que malha junto com a minha turma. Ela está na academia há dois meses e nos primeiros dias, a maioria dos olhos eram desconfiados no tocante a ela. As piadinhas rolavam soltas e as pessoas tinham medo de falar com ela. Dois meses depois, ela é uma colega de academia como qualquer outra. A primeira impressão negativa foi transformada e cessaram as piadinhas. Você acha que muito do preconceito existe por que as pessoas têm uma imagem completamente deturpada das travestis/transexuais? E até que ponto as travestis possuem preconceitos consigo mesmas, já que nem todas estão dispostas a sair de dia e fazer coisas normais como todos os outros?


Maitê: As pessoas, em geral, perdem demais por medo do desconhecido. É mais cômodo acreditar nas besteiras, preconceitos e ensinamentos tortos que nos são passados de geração para geração. Quem vence esta barreira e atinge a realidade, percebe que TODO o contato humano é muito válido. Até de minhas piores experiências, sempre tirei boas lições. E isto não funciona somente comigo. Funciona com você, que me lê agora, também!! Tenha a certeza disto. Infelizmente ainda é pequeno o número de pessoas com esta ousadia de conhecer a realidade e a verdadeira essência da vida. Poucos são os privilegiados de desfrutarem deste sentimento maior. Quando nos damos à chance de conhecermos ALGUÉM, seja quem for este alguém, sem a intenção de julgá-lo ou enquadrá-lo em alguma espécie de categoria, ampliamos nossos horizontes e começamos a aprender que o mundo realmente vai além de nossos umbigos e que todas as pessoas são fontes de experiências, vivências e conhecimentos. Podemos ganhar muito quando tiramos a venda dos olhos. Agora, com relação ao preconceito das travestis com relação a elas mesmas, tenho a certeza de que existe. E não é preconceito não, é falta de auto-estima, na verdade. Eu sofri muito por ter uma baixa auto-estima. Sempre fiquei muito no papel de vítima, sofredora e mal amada pelo mundo. Nada mais normal. Dizem que nós, transgêneros e homossexuais, somos pecadores, sujos, malditos, doentes e que o inferno será nosso melhor presente. Tanto carinho assim, retorna em forma de baixa auto-estima, de violência algumas vezes, de desânimo e suicídio em outras, enfim, de todas estas coisas que jornais sensacionalistas tem coragem de expor tão claramente. Mas conto para vocês, que quem consegue sair disto tudo, dar a volta por cima, rodar a baiana, subir no salto novamente e ainda continuar sendo ela mesma - é uma pessoa muito forte, e que certamente será lembrada sempre não pela coragem, mas pela força de não ter desistido e mostrado que é possível ser o que a gente quer, onde quer que estejamos.

Fervo - No meio gay, há diversas subdivisões. Temos as monas, as barbies, as travestis, os bofes,... Dentro destas subdivisões há preconceito contra as outras subdivisões. Assim, você como transexual politicamente engajada enfrenta mais preconceito no meio gay ou no meio heterossexual? E as travestis/transexuais possuem na sua maioria preconceitos contra os demais grupos?


Maitê: Preconceito não é privilégio de classe nenhuma. Preconceito é algo ensinado no útero materno ( a mãe que fica torcendo para o filho perfeito - quem não quer?) , na infância, nas rodas de amigos, no dia-a-dia cotidiano de todo mundo. Até do seu!! Enfim, preconceito parece que é algo que sempre existiu. Temos a necessidade de possui-lo. Parece que o preconceito nos torna seletivos e mais valorizados perante isto ou aquilo. Sempre fico pensando: " Como pode, uma pessoa, seja negra, judia, mulher, nariguda, obesa, magérrima, orelha-de-abano, enfim.... - pessoas que sofrem preconceitos diversos - terem preconceito??" Não consigo achar uma resposta para isto. Quem já sofreu uma vez sequer por um preconceito qualquer, sabe o quanto é doído ser excluído de algo, em função desta característica. E como pode ter a crueldade de fazer alguém sofrer, esmagando este alguém com alguma espécie de preconceito. Eu acho muita covardia e muita crueldade isto tudo. Abomino os preconceitos. Preconceito é o mal de vários séculos, que espero que não deixemos de legado para nossas futuras gerações.

Fervo - Você sempre foi aceita por sua família e nunca precisou usar da prostituição para conseguir se manter. A prostituição é quase um carma para as travestis/transexuais, mesmo as que não se prostituem são tratadas como tal. Na sua opinião o que os grupos GLBTS poderiam fazer para mudar esta imagem e esta realidade?

Maitê: A imagem das travestis e transexuais sempre esteve ligada muito à prostituição, por ser esta a forma de vida única em que éramos aceitas. Era este o único trabalho "digno" que nos ofertavam. E teve época em que quiseram até delimitar territórios e regras para este trabalho. Em primeiro lugar, creio que devemos acabar com a moralização da prostituição. Todos e todas têm o direito de fazerem o que quiserem com seu corpo, desde que não se firam normas de sociedade e de convívio comum. Posto isto, acredito que o trabalho dos grupos GLBTS e da sociedade civil organizada em geral, seja dar condição igualitária para que todo mundo possa ser o que desejar. Não se deve ter regras, mesmo que "implícitas", de que travesti e transexual tem que se prostituir, de que pobre tem que mendigar e cuidar de carros, de que negros tem que ser porteiros ou mecânicos... enfim, estas besteiradas todas. Os grupos, entidades e associações em geral, devem lutar pela busca desta igualdade. Com isto, paralelamente, iremos construindo auto-estima, confiança individual em cada cidadão e também aumentando a valorização de cada um perante o mundo em que vive. Se a pessoa quiser se prostituir, tem que ter este direito. O que não pode acontecer, é ir para a prostituição "sem querer", por não conseguir outra forma de sobrevivência, devido ao preconceito e ignorância existentes. Temos que tirar da teoria a linda frase de que todos somos iguais, e começarmos a praticá-la.

Fervo - Luiz Mott (presidente do Grupo Gay da Bahia) sugeriu, na última reunião do Conselho Nacional dos Direitos Humanos que fossem reservadas vagas para gays em universidades e cargos públicos. O que você acha desta idéia? Acha que diminuiria a discriminação?


Maitê: Ainda não tenho uma opinião formada sobre isto. Creio que talvez em termos de visibilidade esta tática seja boa, mas acho que isto tudo é somente um atalho. Creio que deveremos partir para a luta pela educação de base. Está na hora de mudarmos conceitos e fazer vigorar leis lindas e que não são colocadas em prática. Está na hora de irmos às faculdades e nos centros acadêmicos e discutirmos abertamente a questão homossexual e transexual. Está na hora de radicalizarmos mais amplamente e não ficarmos mais querendo esmolas e migalhas. Não sei se estou falando besteira ou não. Como eu disse, ainda estou meio confusa, sobre esta questão, mas no momento é assim que penso...

Fervo - Num dos primeiros textos seus que eu li, você afirmava que as pessoas ainda se espantavam muito com os gays porque eles não tinham coragem de mostrar seus sentimentos. Hoje o que vejo é caminharmos cada vez mais para um gueto. Neste gueto temos hotéis para gays, cabeleireiros para gays, escolas para filhos de gays,... No ponto de vista comercial este pode ser um bom nicho, mas até que ponto isto colabora para diminuir o preconceito?


Maitê: Estamos num momento de transição. É complicado, para quem sempre se sentiu errado, sujo e "com problemas", passar a mudar esta mentalidade da noite para o dia. O gueto deveria ser a nossa porta de saída para a globalização dos seres humanos. Globalização, no sentido de unificação para crescimento, entende? O gueto nunca deve ser usado como alternativa final para grupo nenhum. Deve ser válvula de escape até que se consiga a devida coragem de ousar tentar esta unificação em busca de um mundo melhor e mais unido. O gueto como caminho, eu acho válido, pois incentiva um conhecimento único e talvez "facilitado" mais próximo do lugar comum. Agora o gueto, como sua moradia final eu acho péssimo. Sou contra panelinhas, guetos, redutos e contra qualquer espaço que limite minha condição de ser em qualquer estágio.

Fervo - Toda a literatura sobre transexualismo afirma que uma pessoa transexual não precisa obrigatoriamente fazer uma cirurgia de adequação do órgão genital. Porém, a literatura médica, afirma que há sim a cura para o transexualismo e que esta cura é a operação de mudança de sexo. Daí esbarramos em problemas técnicos, como cirurgias mal feitas e falta de apoio governamental ao problema do(a) transexual. O que está sendo feito para garantir aos (às) transexuais o direito a viver bem com o seu corpo?


Maitê: O CFM (Conselho Federal de Medicina) está tentando o melhor caminho. Temos projetos para alteração de registro civil das transexuais, em andamento. Enfim, temos algumas coisas BEM encaminhadas. Lógico que é preciso que todo este benefício seja acompanhado por gente séria, competente e que conheça realmente as nossas necessidades, demandas e anseios. Lógico que enquanto não abrirmos a transexualidade para uma discussão mais ampla, inclusive nos meios acadêmicos, esbarraremos em mais preconceito ainda. Aos poucos as transexuais estão deixando de serem vistas como aberrações psicológicas ou incapazes totais. Começa-se a entender a transexualidade e perceber que a sociedade e o Estado podem ajudar à adaptação e correção da transexual ao que realmente ela é em essência.

Fervo - Há muitos anos você é engaja politicamente. Durante todo este período qual foi a sua pior experiência como líder GLBT?
Maitê: Puxa, líder??? Que peso esta palavra.. hehehe. As piores experiências de militância são, sem dúvida, quando vejo um amigo, uma amiga ou até um anônimo qualquer, sangrando até a morte, ser dilacerado com violência até não conseguir respirar, ser degolado, ser asfixiado e falecer agonizando sem ter culpa de nada. Por ser "fora do padrão correto" do que o assassino acha certo, já vi muitas vidas serem perdidas. Já perdi muitos colegas, amig@s e já vi vários tipos de mortes e com diversos requintes de crueldades em cada morte. Já vi de tudo um pouco e isto tudo me dói muito. Dói demais. Penso sempre: " Por que não cheguei antes, por que não tentei algo mais intensamente..." Sinto-me meio inútil.. não é um bom sentimento....: ((

Fervo - E qual foi a sua melhor experiência?

Maitê: Ahh foram tantas... Ver alguém feliz pelo simples fato de ter podido desabafar "seu segredo", ver a alegria de um filho que conta para seus pais sobre sua sexualidade, ver as pessoas trabalhando sem serem discriminadas. Saindo, namorando e principalmente vivendo, sem precisar se esconder de nada e de ninguém. De cabeça erguida e de peito aberto.

Fervo - Temos muito forte o conceito de orgulho gay, o conceito de ser feliz por ser quem é e conseguir assumir a sua sexualidade numa sociedade tão homofóbica. Nesta última pergunta, o que você tem a dizer aos jovens que tem medo de assumir? Como podemos aumentar o nosso orgulho de sermos gays?

Maitê: Não creio que devemos aumentar somente o orgulho de ser gay.. devemos é ter orgulho de ser gente em primeiro lugar. De sermos pensantes, inteligentes e únicos. Devemos celebrar a vida e o fato de estarmos vivos. Digo, aos jovens, à você que é jovem, que tudo na vida tem o seu momento. O momento pode ser agora, pode ser amanhã, pode estar ainda longe. Mas tenha certeza, o momento ainda não passou. Quando você sentir dentro de ti, um sininho tocando, uma campainha buzinando ou uma voz que não quer mais calar, solte a voz, grite e diga ao mundo TUDO o que você pensa e quer. Somente VOCÊ saberá este momento. Sinta dentro de você mesmo esta voz e saberás o momento correto de tudo acontecer.

Por Pamella Anderson

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

SANTA SÉ: Novas avaliações para se ser Padre

Disponível em:

http://portugalgay.pt/news/?uid=311008D&title=SANTA
+S%C9%3A+Novas+avalia%E7%F5es+para+se+ser+Padre


Sexta-feira, 31 Outubro 2008 01:28


O Vaticano fez saber que os candidatos a padre, (homens que desejem ser padres), antes de ingressar no seminário, serão submetidos a testes psicológicos, coma finalidade de detectar personalidades menos fortes, e por isso incapazes de entregarem a uma vida celibatária.

Neste novo documento, o segundo em três anos, desde os escândalos sexuais, o Vaticano diz: “A Igreja tem o dever de identificar uma vocação e as vulnerabilidades dos candidatos ao ministério paroquial; … O ministério paroquial requer certas habilidades bem como virtudes morais e teológicos as quais se baseiam em um equilíbrio humano e psíquico – um equilíbrio particularmente eficiente – de forma a permitir ao sujeito estar predisposto adequadamente para entregar-se à vida celibatária”

Embora estes testes não sejam obrigatórios, os mesmos poderiam revestir-se de grande importância para o reitor que deseje ter a certeza da vocação dos seus seminaristas

Os testes serão executados por técnicos habilitados (psicólogos) e pretende identificar “imaturidade grave” e desequilíbrios de personalidade, os mesmos que a igreja atribuiu aos homossexuais.

EUA: Universidade cristã expulsa aluno por ser homossexual

Disponível em:


Domingo, 16 Abril 2006 13:02



EUA_Um jovem estudante de 20 anos foi expulso da University of the Cumberlands, um colégio baptista de Williamsburg, Kentucky, depois de a administração da escola ter tomado conhecimento da sua página pessoal na Internet, onde se apresentava como homossexual. No perfil online publicado no MySpace.com, um dos websites mais populares entre a juventude americana, Jason Johnson, aluno do Departamento de Artes Dramáticas, descreve os seus gostos literários e musicais, definindo a sua personalidade com o título "the gay guy".

O presidente da Universidade, Jim Taylor, emitiu uma declaração dizendo que aos alunos de Cumberlands são exigidos os "mais altos padrões éticos" e o respeito pelos princípios cristãos defendidos pela Igreja Baptista, que abertamente condena a homossexualidade. "Consideramos que o homem e a mulher foram criados para ser diferentes e recusamos desculparmo-nos pela nossa fé e pelas nossas convicções", escreveu o presidente. "Todos os alunos que se inscrevem nesta escola estão conscientes das nossas regras e conhecem as consequências de não as cumprir", acrescentou.

O Guia do Estudante publicado pela Universidade para o ano lectivo de 2005/06 afirma especificamente que "qualquer aluno que participe ou promova comportamentos sexuais inconsistentes com os princípios cristãos, incluindo sexo fora do casamento ou homossexualidade, pode ser suspenso ou convidado a sair". Mas o guia de 2003, data da inscrição de Jason Johnson, não contém nenhuma referência a essas orientações superiores ou a nenhum regulamento discriminatório dos homossexuais.

Estudantes indignados

No campus da Universidade, a reacção dos outros estudantes tem sido de indignação. "Há muitos alunos indignados com esta decisão. Jason personifica todos os valores cristãos que a Universidade diz querer promover. Não percebo por que é que a administração persegue um aluno por homossexualidade e nada faz em relação a outras práticas, como, por exemplo, o consumo de álcool ou de drogas", declarou Jennifer Roberts ao jornal local Lexington Herald-Leader.

"Eles são uns hipócritas", acusa outro estudante. "Se o que eles defendem é o respeito pelos princípios cristãos, deviam amar o próximo e aceitá-lo tal como ele é. Porque é que estão a expulsá-lo?", questiona.

Em Janeiro deste ano, uma outra Universidade cristã, a John Brown University, em Siloam Springs, Arkansas, também cancelou a matrícula a um aluno, depois de os administradores terem sido alertados para o conteúdo de um diário pessoal publicado na Internet. Michael Guinn, de 22 anos, descreveu no seu diário cenas de sexo, bebida e jogo - foi acusado de violar as regras de conduta internas do campus e viu a sua matrícula revogada, apesar de poder teoricamente voltar a candidatar-se à frequência da mesma Universidade no próximo ano lectivo.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Preconceito nas universidades(parte IV)

Professor gay: desafios e conquistas

Medo de retaliação e preconceito leva docentes a omitir opção sexual

Quando se fala de universidade e Ensino Superior, instantaneamente somos remetidos à imagem de um ambiente de discussão de idéias relevantes, tanto em âmbito nacional como internacional, na busca da evolução da sociedade. Mesmo alunos mais jovens que, às vezes, não estão preparados para esta realidade, aos poucos, são inseridos em um novo ambiente que os instigue a pensar de forma mais ampla e livre de preconceitos. Preconceitos que podem demorar ultrapassar as barreiras da sala de aula.

No Brasil, o clima amistoso entre universitários é bem comum. Por isso, ter um colega de classe gay, tudo bem. Mas, e o professor, se assume perante colegas e alunos? Não. Muitos professores homossexuais preferem omitir sua opção para evitar conflitos, retaliações ou possíveis constrangimentos na universidade. Não só por parte dos alunos, mas dos colegas docentes e, ainda, por funcionários das instituições. "Certamente 99% dos gays e lésbicas professores vivem presos dentro da gaveta do enrustimento. Têm medo de se assumir, com medo de serem demitidos ou terem sua carreira prejudicada", revela o doutor em Antropologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Luiz Mott.

Ele, que assumiu sua homossexualidade em 1972, uma época extremamente díficil para se posicionar desta forma, conta que lutou muito para combater o preconceito no Ensino Superior. Batalhas travadas para mostrar o quanto sua competência era maior que o estigma lhe dado por conta de sua orientação sexual. "Em toda minha vida sofri dois casos explícitos de discriminação", lembra. O primeiro aconteceu assim que fora convidado para lecionar na UFBA. "Uma amiga indicou meu nome para o cargo e um certo professor disse: mas você sabia que ele é gay? Ela respondeu: sim, mas o que está em jogo é a competência e não a opção sexual do professor", conta.

O segundo caso de discriminação aconteceu quando ele já atuava no departamento de Antropologia da UFBA e havia sido indicado para o cargo de chefia. "Estavam discutindo em uma reunião, a qual eu não estava presente, os possíveis nomes para a chefia. Indicaram meu nome e um professor disse: `E veado pode ser chefe de departamento?´ Obviamente fui questionar com ele quando soube deste episódio, já que era o mais antigo e qualificado para o cargo. Ele negou, mas os outros professores confirmaram sua declaração na reunião", diz.

Mott acrescenta que os casos de perseguição contra os docentes homossexuais são mais comuns do que se imagina. Por meio do grupo Gay da Bahia chegam ao seu conhecimento as mais variadas denúncias. "Soube de professores gays que tiveram suas notas conferidas para ver se privilegiavam os rapazes!", diz. Certa vez, um professor em Natal sofreu contrangimentos por ter publicado um poema homoerótico numa revista nacional. Tal comportamento homofóbico pode fazer com que muitos professores prefiram se manter "às escuras" sem que levem as discussões sobre sexualidade para as salas de aula."Creio que 1% dos assumidos/as raramente utiliza as salas de aula para falar sobre homossexualidade, embora todos os alunos e colegas saibam de sua orientação sexual", revela.

Tema em pauta na sala de aula

Existem, porém, iniciativas por parte das instituições e mesmo de professores, que não necessariamente são homossexuais e estudam o assunto, de debater o tema em classe. Por mais que eles digam que a iniciativa não tenha o objetivo exclusivo de conscientizar, nota-se que ela funciona na promoção da igualdade social.

A professora da UnB (Universidade de Brasília) Ana Galinkin, que leciona a disciplina de Psicologia de Gêneros na pós-graduação, conta que há várias linhas de pesquisa sobre gêneros e homossexualidade. Além disso, em sua classe estudam alunos homossexuais e heterossexuais e a convivência é muito saudável. "É isso que vale ressaltar, a diversidade de opiniões é muito sadia. Ninguém é obrigado a achar normal a homossexualidade do outro, o que está errado é discriminar", ressalta. Segundo ela, o tema homossexualidade acaba sendo sempre mais polêmico em sua disciplina do que quando se discute o preconceito e a discriminação da mulher, mas ainda assim o assunto é levado com bastante tranqüilidade. "Nunca vivi uma experiência de preconceito entre meus alunos o que leva a crer que a convivência pode ser muito sadia desde que os jovens sejam levados a refletir, questionar e estejam sempre lidando com o assunto", conclui.

Fonte: UFRR

Preconceito nas universidades(parte III)

Do outro lado

Quem assumiu sua homossexualidade, por sua vez, acredita que o preconceito existe, mas dificilmente os atinge. "As pessoas podem até pensar, mas não vão chegar até mim e falar: olha, eu acho que está errado você ser gay", diz Marcos A. Sousa, de 22 anos, estudante de Jornalismo da Unicsul. "Assumi minha homossexualidade porque senti afinidade com a turma e conquistei o respeito dos colegas", conta. Hoje, no 3º ano da faculdade, até os colegas heterossexuais - meninos - o cumprimentam com um selinho. "É lógico que não são todos, mas alguns não têm o menor problema em retribuir desta forma", diz.

Quem pensa que o estudante ganhou o respeito facilmente, mal pode imaginar o que ele passou nos dois primeiros anos do curso, quando não havia ainda assumido sua preferência. "Não me sentia à vontade. No começo, você não conhece ninguém e, entre os meninos, é inevitável rolar piadinhas sobre gays. Muitas vezes eu até entrava na onda, só com o tempo e o respeito que conquistei por ser articulado, ter muitos amigos e estar sempre de bem com a vida", lembra o estudante. Até que, um dia, no fim do segundo ano da faculdade, quando a turma se dividiria entre jornalismo e publicidade, ao se despedir, Marcos levantou no meio da sala de aula, e disse: "eu queria dizer, para quem não sabe, que sou gay. E agradecer pelo apoio e respeito dos colegas que nunca me trataram diferente".

Mas, para se assumir, nem todos sentem necessidade de gritar, assim, aos quatro ventos. Marcelo Croci, de 22 anos, estudante de Administração, por exemplo, preferiu ter uma postura discreta, e acredita que por isso não tenha enfrentado grandes problemas na universidade. "As pessoas até estão preparadas para saber, mas não para ver. Quem é discreto acaba sendo aceito com mais facilidade", opina. O ambiente universitário lhe deu confiança para assumir sua preferência sexual e, também, para conversar com seus pais. Foi no início da faculdade, aos 17 anos, e já com um namorado, que ele decidiu contar para a família. "A princípio eles acharam que eu era muito novo para decidir minha opção sexual, encararam como algo passageiro. Com o tempo, viram que não era 'fogo de palha', e aceitaram", revela o estudante.

Rafael Silva Martins, de 24 anos, estudande do curso de Publicidade conta que teve mais dificuldade em casa do que na faculdade ao assumir sua homossexualidade. Ele, cujo o irmão mais velho também já havia assumido ser gay, diz que a parte mais dolorosa foi encarar a reação dos pais. "Minha mãe ficou um bom tempo chorando no banheiro, mas entendeu. Meu pai é um pouco mais distante. Não falo sobre este assunto com ele. Tenho um namorado e às vezes ele pergunta se está tudo bem conosco, é receptivo. O carinho não mudou, mas foi difícil", diz.

Preconceito nas universidades( parte II)

O atraso brasileiro

Segundo o antropólogo, mesmo abrigando a maior parada gay do mundo - evento realizado aualmente na cidade de São Paulo - o Brasil é um país extremamente homofóbico e está deveras atrasado em relação a outras nações na luta pela inclusão dos homossexuais. Isso se reflete nas instituições de Ensino Superior, já que ainda é baixo o número de iniciativas para diminuir o preconceito em relação à diversidade sexual e de projetos de conscientização dos jovens sobre o tema dentro delas. "Nos Estados Unidos, as universidades possuem grupos acadêmicos de estudos homoeróticos, em diversas áreas, as publicações sobre os temas são muito importantes e existem sites que dão acesso a este tipo de bibliografia", conta Mott.

Além disso, ele afirma que as instituições norte-americanas também oferecem um amplo leque em áreas de pesquisa e cursos de especialização que tratam da homossexualidade. "Isso é algo quase inexistente no Brasil", lamenta. Os Estados Unidos também ofertam cursos com uma temática voltada para homossexuais tanto na graduação, como na pós-graduação, além de terem instituído um mês específico de estudos gays e lésbicos. Durante este mês, todas as universidades e high schools participam de palestras e debates sobre o tema. "Sempre que visitava este país ficava frustrado ao perceber como o Brasil estava distante desta realidade", lembra.

Mas o que poderia ser feito nas instituições brasileiras para mudar esta realidade? Para o antropólogo da UFBA, além da divulgação do tema por meio de palestras, outra alternativa válida seria garantir informação correta e de qualidade sobre a homossexualidade. "Equipar as bibliotecas com livros que tratem sobre o assunto de forma moderna e humanista, e conscientizar alunos que o racismo, a homofobia, o machismo, entre outros preconceitos baseados na ignorância estão errados e que é preciso respeitar a igualdade seriam atitudes significativas", defende. Em sua opinião, este seria um primeiro passo para que outros dois pilares fundamentais para combater o preconceito dentro e fora da universidade fossem erguidos. Em primeiro lugar, dar mais visibilidade ao tema, a partir do momento que os homossexuais se assumissem sem medo, tendo como apoio políticas afirmativas na instituição e associações que defendam seus direitos. E, em segundo lugar, cobrar dos órgãos públicos como a polícia e a justiça severidade na investigação e punição de crimes baseados na homofobia. "Devemos ser intolerantes contra a intolerância. Não mais permitindo que professores e alunos discriminem seus colegas pela homossexualidade", conclui

Gays e heteros na facul: dá para conviver?

Como se relacionam no campus e o diz-que-me-diz-que nos corredores

Por Lilian Burgardt

Para muitos alunos gays e lésbicas, a fase universitária acaba sendo o momento propício para assumir sua preferência sexual perante a família, os colegas e a sociedade. Sair do armário fica mais fácil (ou menos difícil) nessa época por conta de um ambiente liberal onde a divergência de opiniões é razoavelmente respeitada. O que não quer dizer que não há fofocas, piadinhas e gente incomodada, como o estudante universitário do 5º semestre de Jornalismo, Obede Rocha Viana Júnior, de 21 anos. "Não condeno quem é gay. Tampouco discrimino, mas não concordo com este tipo de relacionamento", declara. Ele assume que se sente desconfortável ao ver casais de gays e lésbicas se beijando na universidade, apesar do relacionamento "entre meninas" parecer menos agressivo. "A homossexualidade entre meninos é mais chocante. Não dou muita atenção quando vejo casais assim, não vou lá interrompê-los nem nada, mas se me perguntarem o que eu acho...", avisa o estudante.

Um outro aluno, do curso de criação e produção gráfica, de 20 anos, que preferiu não se identificar, também concorda com Viana Junior. "Por uma questão religiosa não acho correto e nem normal duas pessoas do mesmo sexo se relacionarem. Claro que entre homens é sempre mais agressivo, nojento. Com as meninas, às vezes, pode ser interpretado até como fetiche, mas ainda assim sou contra", ressalta.

Já Marcelo Oliveira, de 20 anos, do curso de Secretariado Executivo Bilíngue da FATEC (Faculdade Tecnológica de São Paulo), não vê o menor problema neste tipo de relação. "O preconceito de qualquer ordem é ruim e deve, sim, ser reprimido", acredita. Ele diz isso porque sofre na pele preconceito por ter escolhido uma carreira cuja maioria dos estudantes são gays e mulheres. "Já ouvi piadinhas do tipo: 'por que você não faz um curso de homem?', 'vai fazer curso superior pra servir cafézinho?Hora-extra com o chefe?'".

Professores e alunos homossexuais falam de preconceito nas universidades

[Recolhi o material que posto aqui no site: http://www.universia.com.br/
O presente material trata sobre a questão da homossexualidade no espaço acadêmico atualmente. Achei o trabalho interessante,e como já havia publicado anteriormente materiais neste blog sobre a questão da "homossexualidade na escola", e desenvolvendo o tema publico o material neste blog distribuindo-o em postagens, já que pela extenção do material surgiu a nessecidade de "recortá-lo" em duas ou mais partes, para não ficar muito longo numa postagem só. A sua data de publicação no UNIVERSIA é:31/03/2006 ]


Inclusão dos homossexuais

Como as universidades podem lidar com a diversidade dentro do campus?

Não é de hoje que o ambiente universitário é conhecido como o local ideal para que os estudantes exponham suas idéias, declarem suas vontades e preferências. O momento de dizer adeus à infância e à adolescência abre espaço para que os indivíduos sintam-se à vontade para assumir suas posições sem medo, ou pelo menos, com mais coragem. Será possível, porém, fazer com que tantas pessoas, sobretudo, diferentes, convivam em harmonia em um mesmo espaço? Realmente não é uma missão das mais simples, especialmente no Brasil onde, apesar da diversidade, o preoconceito e a segregação dos homossexuais ainda é bastante evidente. Embora algumas universidades atuem desenvolvendo programas, pesquisas e projetos especiais com o objetivo de difundir os direitos dos homossexuais e combater perseguição contra eles, para especialistas, o cenário ainda está longe do ideal. "É crescente o número de trabalhos nesta linha, mas ainda assim o movimento dentro das instituições é incipiente", lamenta o doutor em Antropologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e fundador do grupo gay da Bahia, Luiz Mott.

Em parte isto ocorre porque muitos grupos atuantes nas instituições brasileiras são isolados e não contam com apoio da reitoria. Tratam-se de iniciativas levadas à frente pelos alunos das instituições em parceria com diretórios acadêmicos e com o movimento estudantil. É o caso do Prisma, do DCE da USP (Diretório Central de Estudantes da Universidade de São Paulo), que ganhou voz e visibilidade ao organizar o beijaço - manifestação de apoio às alunas da USP agredidas pelo segurança da universidade enquanto namoravam dentro do campus em 2005. A iniciativa mobilizou, inclusive, parte dos estudantes simpatizantes da universidade.

Em atividade desde 2002, o Prisma é um grupo permanente de trabalho do DCE. Charlie Drews, de 20 anos, estudante do curso de História e membro do grupo, explica que sua atuação se divide em dois eixos: o grupo de discussão, que promove o debate de temas sobre a diversidade sexual e o grupo de ação política, responsável pela organização de palestras e eventos, bem como reuniões políticas que promovam ações deliberativas sobre o tema. "O apoio da reitoria na promoção de palestras e eventos dentro do campus, sem dúvida, ajudaria para que fôssemos ouvidos e que nossas discussões sobre a temática da diversidade sexual chegasse a um leque maior de estudantes. Além disso, apoiando efetivamente esta iniciativa, a instituição se mostraria realmente preocupada com a questão", afirma Drews.

Algumas instituições apóiam a formação de grupos de discussão, tanto dos direitos dos homossexuais como da inclusão social das minorias de uma forma geral. A UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e a UnB (Universidade de Brasília) são bons exemplos de instituições que têm grupos formados para combater e discutir temas como opressão e direitos humanos, mas que acabam incorporando a temática da diversidade sexual. "Nossa missão inicial era trabalhar com a inclusão dos cotistas na universidade, agora com o grupo já formado, a idéia é que se desenvolva também discussões e debates sobre outras questões como a homossexualidade", revela o assessor de inclusão e diversidade da UnB, Jaques Jesus.

Apesar de iniciativas isoladas terem seu valor, a integração destes grupos faz uma diferença significativa para combater o preconceito. Por isso, anualmente, encontros como o Enuds (Encontro Nacional Universitário sobre a Diversidade Sexual) são realizados pelos grupos em defesa dos direitos dos homossexuais. "Este tipo de evento permite a troca de experiências entre grupos das mais diversas universidade para a difusão e implementação de projetos bem-sucedidos em outras instituições", ressalta Drews.

Rapaz tenta matar gay e é preso em flagrante em Teresina

Disponível em:

http://www.cabecadecuia.com/noticias/32431/rapaz-tenta-matar-gay
-e-e-preso-em-flagrante-em-teresina.html

15/10/2008 - 22h10min

Policias do 7º DP de Teresina prenderam em flagrante, nesta madrugada, Clebert Oliveira Andrade (26 anos), sob a acusação de tentativa de homicídio contra o adolescente S.A (17 anos).

Ao ser preso, Clebert bradava "eu odeio viado" e fez várias ameaças de, quando sair da cadeia matar o adolescente S.A. Em seu depoimento, a vítima declarou que já manteve um relacionamento amoroso com Clebert Oliveira Andrade, atribuindo as motivações do crime ao fato de o agressor estar enciumado com o final da relação e também ao desconforto deste com sua orientação homossexual.

Homossexualidade Ego-distônica
O caso de Clebert pode ser um exemplo de homossexualidade ego-distônico, caracterizada por um desconforto ou uma aflição persistente em algumas pessoas que sentem desejos afetivos-sexuais por pessoas do mesmo sexo (lésbicas/gays).

A homossexualidade ego-distônica em grau acentuado leva muitos homossexuais a buscarem desesperadamente relações com pessoas do sexo oposto, numa tentativa de fugir dos desejos homoafetivos. Em casos extremos, o gay ou a lésbica ego-distônico chega a cometer homicídio ou até mesmo chacinas contra LGBTs, principalmente aqueles que se visibilizam.

A FÉ DOS HOMOFÓBICOS

Disponível em:

http://www.aliadas.org.br/site/textos/noticias.php?id=89

07.07.2008


Artigo publicado em www.veja.com.br

A FÉ DOS HOMOFÓBICOS
*por André Petry


"Dizem eles que a criminalização da homofobia levará à prisão em massa de pastores e padres, e viveremos todos sob o domínio gay. A história ensina que essa lei será aprovada, e a vida seguirá seu curso regular, sem nada de extraordinário"

Em 1946, quando os negros reivindicaram a inclusão de alguns direitos na Constituição, foi um salseiro. Foram acusados de antidemocráticos e racistas por congressistas e estudantes da UNE. Em 1988, a Constituição promoveu o racismo de contravenção a crime. Ninguém chiou. Na década de 50, quando se discutia o divórcio, teve cardeal dizendo que se devia pegar em armas para combater a proposta. Em 1977, o Congresso aprovou o divórcio. Não houve tiroteio, e a igreja do cardeal nunca mais tocou no assunto. Recordar é viver.

Agora, os evangélicos estão anunciando o apocalipse caso o Senado faça o que a Câmara já fez: aprovar lei punindo a homofobia com prisão. A lei em vigor pune a discriminação por raça, cor, etnia, religião e procedência nacional. A nova acrescenta a punição por discriminação contra homossexuais. Cerca de 1 000 evangélicos tentaram invadir o Senado em protesto. Dizem que a criminalização da homofobia levará à prisão em massa de pastores e padres, e viveremos todos sob o domínio gay. A história ensina que, cedo ou tarde, a lei, ou outra qualquer com objetivo similar, será aprovada, e a vida seguirá seu curso regular sem nada de extraordinário.

Os evangélicos e aliados dizem que proibir a discriminação contra gays fere a liberdade de expressão e religião. Dizem que padres e pastores, na prática de sua crença, não poderão mais criticar a homossexualidade como pecado infecto e, se o fizerem, vão parar no xadrez. É uma interpretação tão grosseira da lei que é difícil crer que seja de boa-fé.

Tal como está, a lei não proíbe a crítica. Proíbe a discriminação. Não pune a opinião. Pune a manifestação do preconceito. Uma coisa é ser contra o casamento gay, por razões de qualquer natureza. Outra coisa é humilhar os gays, apontá-los como filhos do demônio, doentes ou tarados. É tão reacionário quanto uma Ku Klux Klan alegar que a proibição da segregação racial fere sua liberdade de expressão. Querem a liberdade de usar a tecnologia Holerite de cartões perfurados pela IBM?

Alegam que a liberdade religiosa fica limitada porque combater o pecado vira crime. É um duplo equívoco. O primeiro é achar que uma doutrina de crença em forças sobrenaturais autoriza o fiel a discriminar o herege. O segundo é atribuir à lei valor moral. O direito penal não é instrumento para infundir virtudes. É um meio para garantir o convívio minimamente pacífico em sociedade. Matar é crime não porque seja imoral, mas porque a sociedade entendeu que a vida deve ser preservada. Dúvidas? Recorram ao Supremo Tribunal Federal. Na democracia, é assim. Lei não é bíblia de moralidade.

O que essa proposta pretende dar aos gays, e sabe-se lá se terá alguma eficácia, é aquilo a que todo ser humano tem direito: respeito à sua integridade física e moral. Os evangélicos, pelo menos os que foram a Brasília, dão prova de desconhecer que seres humanos não diferem de coisas só porque são um fim em si mesmos. Os seres humanos diferem das coisas porque, além de tudo, têm dignidade. As coisas têm preço.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Beijaço na USP




Ao som de Like a Virgin, aconteceu no Centro Acadêmico da Veterinária na Usp, na noite da última sexta-feira (31/10), o beijo entre Jarbas Rezende, 25, e José Eduardo Souza Goes, 18, expulsos de uma festa no mesmo local no início do mês.
O beijo entre os estudantes de letras foi parte de um beijaço convocado por alunos da universidade como resposta a discriminação sofrida pela dupla de amigos. Foram poucos os casais gays que se beijaram no evento, que acabou virando mesmo uma manifestação de carinho, amizade e apoio contra o preconceito

A concentração para o beijaço estava marcada para às 22h na entrada da FEA - Faculdade de Economia e Administração. No horário, em frente ao C.A da veterinária os alunos presentes na festa estranhavam a presença de alguns jornalistas. Uma garota dançava no palquinho de onde o casal foi expulso, e havia espaço na pista da festa.

Ali, às 22h20, o beijaço era quase uma lenda. "Dizem que a galera do beijaço vem aí", soltou um rapaz para um grupo de amigos. Enquanto isso, na frente da FEA, já havia um grupo formado por cerca de 80 e 100 pessoas, preparando balões e segurando algumas bandeiras do arco-íris. Apesar de uma fina garoa que caia, o clima era de muita expectativa.Por volta das 23h os presentes na manifestação começaram o percurso até o C.A da veterinária. Segurando bexigas e bandeiras do arco-íris, passaram pela FEA fazendo um apitaço e entoando coros contra o preconceito. "Pra combater a homofobia, nossa luta é todo dia", gritavam.

Meninos e meninos, meninas e meninas

Quando o grupo chegou em frente ao local onde ocorria a festa da Veterinária, Jarbas recebeu mais abraços e beijos de seus amigos. Alguns fotógrafos, impacientes com o horário de fechamento das edições dos jornais, pressionaram para que o beijaço acontecesse logo.
Os envolvidos estavam indecisos quanto ao que fariam. A intenção era beijar dentro do C.A, que a esta hora já estava mais cheio. Nem todos os manifestantes conseguiriam entrar no local. Jarbas discutia com amigos como deveria ser o beijaço. "Primeiro só os rapazes beijam. Depois as mulheres." Uma amiga retrucava. "Não Jarbas, deixa todo mundo se beijar. Nós mulheres temos menos representatividade no movimento."
A resolução acabou não dando muito certo. No total, não mais de cinco casais homossexuais trocaram beijos, depois que Jarbas e José Eduardo se beijaram. Na festa, depois de Madonna, tocou "I Will Survive".
Do lado de fora, um grupo de três estudantes, aparentemente heterossexuais, conversavam sobre o beijaço. "Nossa, um dos meninos que foram expulsos estava lá dentro beijando uma menina", dizia um. Outro então comentou, "puxa, então ele virou a casaca". Um terceiro emendou, "não, ele desvirou". Todos riram.
Ao final da manifestação, sobrou até para um jornalista da rede globo que foi pressionado por um grupo de estudantes para que beijasse outro rapaz. Diante do "não-beijo", a equipe teve de ouvir um pequeno coro de "Globo homofóbica". Depois disso, estava terminada a manifestação em prol dos alunos expulsos de uma festa da Usp.

Fonte: Revista Acapa