quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Preconceito nas universidades(parte III)

Do outro lado

Quem assumiu sua homossexualidade, por sua vez, acredita que o preconceito existe, mas dificilmente os atinge. "As pessoas podem até pensar, mas não vão chegar até mim e falar: olha, eu acho que está errado você ser gay", diz Marcos A. Sousa, de 22 anos, estudante de Jornalismo da Unicsul. "Assumi minha homossexualidade porque senti afinidade com a turma e conquistei o respeito dos colegas", conta. Hoje, no 3º ano da faculdade, até os colegas heterossexuais - meninos - o cumprimentam com um selinho. "É lógico que não são todos, mas alguns não têm o menor problema em retribuir desta forma", diz.

Quem pensa que o estudante ganhou o respeito facilmente, mal pode imaginar o que ele passou nos dois primeiros anos do curso, quando não havia ainda assumido sua preferência. "Não me sentia à vontade. No começo, você não conhece ninguém e, entre os meninos, é inevitável rolar piadinhas sobre gays. Muitas vezes eu até entrava na onda, só com o tempo e o respeito que conquistei por ser articulado, ter muitos amigos e estar sempre de bem com a vida", lembra o estudante. Até que, um dia, no fim do segundo ano da faculdade, quando a turma se dividiria entre jornalismo e publicidade, ao se despedir, Marcos levantou no meio da sala de aula, e disse: "eu queria dizer, para quem não sabe, que sou gay. E agradecer pelo apoio e respeito dos colegas que nunca me trataram diferente".

Mas, para se assumir, nem todos sentem necessidade de gritar, assim, aos quatro ventos. Marcelo Croci, de 22 anos, estudante de Administração, por exemplo, preferiu ter uma postura discreta, e acredita que por isso não tenha enfrentado grandes problemas na universidade. "As pessoas até estão preparadas para saber, mas não para ver. Quem é discreto acaba sendo aceito com mais facilidade", opina. O ambiente universitário lhe deu confiança para assumir sua preferência sexual e, também, para conversar com seus pais. Foi no início da faculdade, aos 17 anos, e já com um namorado, que ele decidiu contar para a família. "A princípio eles acharam que eu era muito novo para decidir minha opção sexual, encararam como algo passageiro. Com o tempo, viram que não era 'fogo de palha', e aceitaram", revela o estudante.

Rafael Silva Martins, de 24 anos, estudande do curso de Publicidade conta que teve mais dificuldade em casa do que na faculdade ao assumir sua homossexualidade. Ele, cujo o irmão mais velho também já havia assumido ser gay, diz que a parte mais dolorosa foi encarar a reação dos pais. "Minha mãe ficou um bom tempo chorando no banheiro, mas entendeu. Meu pai é um pouco mais distante. Não falo sobre este assunto com ele. Tenho um namorado e às vezes ele pergunta se está tudo bem conosco, é receptivo. O carinho não mudou, mas foi difícil", diz.

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