Professor gay: desafios e conquistas
Medo de retaliação e preconceito leva docentes a omitir opção sexual
Quando se fala de universidade e Ensino Superior, instantaneamente somos remetidos à imagem de um ambiente de discussão de idéias relevantes, tanto em âmbito nacional como internacional, na busca da evolução da sociedade. Mesmo alunos mais jovens que, às vezes, não estão preparados para esta realidade, aos poucos, são inseridos em um novo ambiente que os instigue a pensar de forma mais ampla e livre de preconceitos. Preconceitos que podem demorar ultrapassar as barreiras da sala de aula.
No Brasil, o clima amistoso entre universitários é bem comum. Por isso, ter um colega de classe gay, tudo bem. Mas, e o professor, se assume perante colegas e alunos? Não. Muitos professores homossexuais preferem omitir sua opção para evitar conflitos, retaliações ou possíveis constrangimentos na universidade. Não só por parte dos alunos, mas dos colegas docentes e, ainda, por funcionários das instituições. "Certamente 99% dos gays e lésbicas professores vivem presos dentro da gaveta do enrustimento. Têm medo de se assumir, com medo de serem demitidos ou terem sua carreira prejudicada", revela o doutor em Antropologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Luiz Mott.
Ele, que assumiu sua homossexualidade em 1972, uma época extremamente díficil para se posicionar desta forma, conta que lutou muito para combater o preconceito no Ensino Superior. Batalhas travadas para mostrar o quanto sua competência era maior que o estigma lhe dado por conta de sua orientação sexual. "Em toda minha vida sofri dois casos explícitos de discriminação", lembra. O primeiro aconteceu assim que fora convidado para lecionar na UFBA. "Uma amiga indicou meu nome para o cargo e um certo professor disse: mas você sabia que ele é gay? Ela respondeu: sim, mas o que está em jogo é a competência e não a opção sexual do professor", conta.
O segundo caso de discriminação aconteceu quando ele já atuava no departamento de Antropologia da UFBA e havia sido indicado para o cargo de chefia. "Estavam discutindo em uma reunião, a qual eu não estava presente, os possíveis nomes para a chefia. Indicaram meu nome e um professor disse: `E veado pode ser chefe de departamento?´ Obviamente fui questionar com ele quando soube deste episódio, já que era o mais antigo e qualificado para o cargo. Ele negou, mas os outros professores confirmaram sua declaração na reunião", diz.
Mott acrescenta que os casos de perseguição contra os docentes homossexuais são mais comuns do que se imagina. Por meio do grupo Gay da Bahia chegam ao seu conhecimento as mais variadas denúncias. "Soube de professores gays que tiveram suas notas conferidas para ver se privilegiavam os rapazes!", diz. Certa vez, um professor em Natal sofreu contrangimentos por ter publicado um poema homoerótico numa revista nacional. Tal comportamento homofóbico pode fazer com que muitos professores prefiram se manter "às escuras" sem que levem as discussões sobre sexualidade para as salas de aula."Creio que 1% dos assumidos/as raramente utiliza as salas de aula para falar sobre homossexualidade, embora todos os alunos e colegas saibam de sua orientação sexual", revela.
Tema em pauta na sala de aula
Existem, porém, iniciativas por parte das instituições e mesmo de professores, que não necessariamente são homossexuais e estudam o assunto, de debater o tema em classe. Por mais que eles digam que a iniciativa não tenha o objetivo exclusivo de conscientizar, nota-se que ela funciona na promoção da igualdade social.
A professora da UnB (Universidade de Brasília) Ana Galinkin, que leciona a disciplina de Psicologia de Gêneros na pós-graduação, conta que há várias linhas de pesquisa sobre gêneros e homossexualidade. Além disso, em sua classe estudam alunos homossexuais e heterossexuais e a convivência é muito saudável. "É isso que vale ressaltar, a diversidade de opiniões é muito sadia. Ninguém é obrigado a achar normal a homossexualidade do outro, o que está errado é discriminar", ressalta. Segundo ela, o tema homossexualidade acaba sendo sempre mais polêmico em sua disciplina do que quando se discute o preconceito e a discriminação da mulher, mas ainda assim o assunto é levado com bastante tranqüilidade. "Nunca vivi uma experiência de preconceito entre meus alunos o que leva a crer que a convivência pode ser muito sadia desde que os jovens sejam levados a refletir, questionar e estejam sempre lidando com o assunto", conclui.
Fonte: UFRR
Medo de retaliação e preconceito leva docentes a omitir opção sexual
Quando se fala de universidade e Ensino Superior, instantaneamente somos remetidos à imagem de um ambiente de discussão de idéias relevantes, tanto em âmbito nacional como internacional, na busca da evolução da sociedade. Mesmo alunos mais jovens que, às vezes, não estão preparados para esta realidade, aos poucos, são inseridos em um novo ambiente que os instigue a pensar de forma mais ampla e livre de preconceitos. Preconceitos que podem demorar ultrapassar as barreiras da sala de aula.
No Brasil, o clima amistoso entre universitários é bem comum. Por isso, ter um colega de classe gay, tudo bem. Mas, e o professor, se assume perante colegas e alunos? Não. Muitos professores homossexuais preferem omitir sua opção para evitar conflitos, retaliações ou possíveis constrangimentos na universidade. Não só por parte dos alunos, mas dos colegas docentes e, ainda, por funcionários das instituições. "Certamente 99% dos gays e lésbicas professores vivem presos dentro da gaveta do enrustimento. Têm medo de se assumir, com medo de serem demitidos ou terem sua carreira prejudicada", revela o doutor em Antropologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Luiz Mott.
Ele, que assumiu sua homossexualidade em 1972, uma época extremamente díficil para se posicionar desta forma, conta que lutou muito para combater o preconceito no Ensino Superior. Batalhas travadas para mostrar o quanto sua competência era maior que o estigma lhe dado por conta de sua orientação sexual. "Em toda minha vida sofri dois casos explícitos de discriminação", lembra. O primeiro aconteceu assim que fora convidado para lecionar na UFBA. "Uma amiga indicou meu nome para o cargo e um certo professor disse: mas você sabia que ele é gay? Ela respondeu: sim, mas o que está em jogo é a competência e não a opção sexual do professor", conta.
O segundo caso de discriminação aconteceu quando ele já atuava no departamento de Antropologia da UFBA e havia sido indicado para o cargo de chefia. "Estavam discutindo em uma reunião, a qual eu não estava presente, os possíveis nomes para a chefia. Indicaram meu nome e um professor disse: `E veado pode ser chefe de departamento?´ Obviamente fui questionar com ele quando soube deste episódio, já que era o mais antigo e qualificado para o cargo. Ele negou, mas os outros professores confirmaram sua declaração na reunião", diz.
Mott acrescenta que os casos de perseguição contra os docentes homossexuais são mais comuns do que se imagina. Por meio do grupo Gay da Bahia chegam ao seu conhecimento as mais variadas denúncias. "Soube de professores gays que tiveram suas notas conferidas para ver se privilegiavam os rapazes!", diz. Certa vez, um professor em Natal sofreu contrangimentos por ter publicado um poema homoerótico numa revista nacional. Tal comportamento homofóbico pode fazer com que muitos professores prefiram se manter "às escuras" sem que levem as discussões sobre sexualidade para as salas de aula."Creio que 1% dos assumidos/as raramente utiliza as salas de aula para falar sobre homossexualidade, embora todos os alunos e colegas saibam de sua orientação sexual", revela.
Tema em pauta na sala de aula
Existem, porém, iniciativas por parte das instituições e mesmo de professores, que não necessariamente são homossexuais e estudam o assunto, de debater o tema em classe. Por mais que eles digam que a iniciativa não tenha o objetivo exclusivo de conscientizar, nota-se que ela funciona na promoção da igualdade social.
A professora da UnB (Universidade de Brasília) Ana Galinkin, que leciona a disciplina de Psicologia de Gêneros na pós-graduação, conta que há várias linhas de pesquisa sobre gêneros e homossexualidade. Além disso, em sua classe estudam alunos homossexuais e heterossexuais e a convivência é muito saudável. "É isso que vale ressaltar, a diversidade de opiniões é muito sadia. Ninguém é obrigado a achar normal a homossexualidade do outro, o que está errado é discriminar", ressalta. Segundo ela, o tema homossexualidade acaba sendo sempre mais polêmico em sua disciplina do que quando se discute o preconceito e a discriminação da mulher, mas ainda assim o assunto é levado com bastante tranqüilidade. "Nunca vivi uma experiência de preconceito entre meus alunos o que leva a crer que a convivência pode ser muito sadia desde que os jovens sejam levados a refletir, questionar e estejam sempre lidando com o assunto", conclui.
Fonte: UFRR
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