sábado, 29 de agosto de 2009

Voz de Ganimedes, minha Voz (o moderador)

Mais uma semana da Diversidade encontrou seu término, mais uma vez vi sairem nas ruas outros tantos iguais a mim, em sua alegria de poder ao menos por um instante quebrar as cinzas matizes da cidade, encobrindo os asfalto com ecos de uma esperança de podermos viver com mais dignidade dentro da sociedade a cada passo que dávamos nas ruas e avenidas, levantando a bandeira da diversidade - the rainbow flag, a bandeira do arco íris.

Confesso que estou com a mente um pouco cansada, mas me encontro feliz, de apesar de eu ser apenas um simples homem que faz uma pequena ação dia a dia, através deste blog, para mostrar que a luta deve continuar, senti-me orgulhoso em ver pulsar em mim ao longo dos eventos e debates dos quais participei, que apesar de pequeno sou também uma engrenagem que ajuda o movimento a estar vivo, e que ainda que sejam poucas as coisas que posso fazer, pelo menos neste estágio da minha vida, não posso me permitir parar.

Não estou atrás de ser reconhecido, apenas quero poder tornar palpável se não pra mim, mas para outros, que virão depois de mim, a ESPERANÇA, a chance, de poderem encontrar respostas, meios que possibilitem a construção de novas formas que redefinam aos olhos dos outros o valor que realmente temos, que redefinam novas estradas para os direitos que hoje nos são negados.
Luto também por uma questão pessoal: considero que me permitir também por minha vez assumir a responsabilidade de ser mais uma voz e uma força entre as que estão por aí a fora a lutar pela igualdade, é também uma maneira de me manter vivo.

Vivo... porque ao lutar me mantenho fiel a um sonho, que é também o de muitos, construir dentro da sociedade o meu espaço, os meus direitos, os direitos do homem que eu amo. Sei também que o vermelho tom que há em nossa bandeira vem todos os dias me lembrar que não é só com alegrias que nós, gays, lésbicas, travestis e transgêneros nos deparamos em nosso cotidiano... há muito sangue derramado no chão, e infelizmente muito ainda está por cair, porque as leis podem reger e construir limites para as ações de um homem, de uma mulher, enfim de nós cidadãos, "pelo lado de fora", de "fora para dentro", mas as leis não são capazes de por si só quebrar as mentalidades atrasadas, de aquebrantar preconceitos, fulminar com as barreiras, que vemos diante de nós hoje.

Há muito sangue que clama por uma resposta, e cabe a nós que aqui permanecemos em pé, promover o plantio e o desenvolvimento dessa resposta, dentro do coração daqueles que insistem em se deixar atravessados nos caminhos de novas conquistas. Acaso se há uma forma tremendamente violenta de se matar um de nós, isto não é feito, meus irmãos, através de facas, amarras, ou armas de fogo, a pior forma de nos manter mortos que muitos dentro da nossa sociedade encontraram foi a de criar um véu de invisibilidade sobre nosso valor, sobre nossa dignidade, sobre nosso direito a um trabalho digno.

Eles perceberam isso, e eu humildemente os convoco a todos, particularmente os que ainda não se deixaram tocar pela singularidade dessa questão, nos armemos, não com o que mata o corpo, para lhes dar uma resposta, mas com a única coisa que de fato é capaz de destruir o velho, nos armemos de CONSCIÊNCIA, e ao lado dela usemos o escudo da ESPERANÇA.

E outra coisa importante, muito se fala das feridas que o preconceito "de fora" causa, mas muitos de nós esquecem das que são causadas por membros de nossa própria comunidade a outros iguais a nós, faltando com respeito, ou até subestimando a capacidade de outrem de ir além dos estigmas sobre ele(a) lançados, isso ainda é mais nítido entre os que entre nós ainda não conseguiram plenamente se admitirem, e se aceitarem, peço que revejam a si mesmos, trabalhem em si mesmos antes de quererem ir para as ruas, caso contrário suas gargantas não produzirão gritos capazes de semear ventos de mudança, mas abortos de oportunidades que outros poderiam ter através da nossa luta, porque vocês esqueceram de acrescentar ao que fazem uma atitude mais humana.

Há alguns anos atrás, não conseguia enxergar uma travesti como alguém igual a mim, não me permitia me deixar um pouco mais sensível a realidade de uma lésbica, apesar de já me entender como "gay', a partir do momento em que comecei a me enfrentar e aceitar, comecei toda uma batalha com minhas próprias convicções, não foi um trabalho fácil, tirar o peso dos preconceitos que eu havia assimilado, mas por fim hoje posso me permitir me irmanar aos que antes eu não conseguia. Pois a luta não é para dar frutos para uns poucos, pois se até hoje eu mantivesse minha mentalidade antiga, poderia dizer que tudo que hoje faço, incluso participar das atividades que ocorrem para nos dar uma maior capacidade crítica de perceber nossos direitos e o que precisa ser mudado, atividades de conscientização, tudo isso seria em vão.

Sou pequeno no meio de tantos que lutam, mas assumi este compromisso e até onde me levarem as minhas forças procurarei persistir, por mim, por quem amo, por todos, que agora me sinto mais maduro para de fato viver aceitando quem de fato são, seu valor, e lutando de modo igual para os direitos de todos




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