segunda-feira, 18 de maio de 2009

Chama

(O moderador)
"Ah, não existe coisa mais triste que ter paz

E se arrepender, e se conformar
E se proteger de um amor a mais..."
(Vinícius de Moraes - Tempo de amor)


Não há redescoberta maior do que a do outro, a quem amamos, em cada dia que se esvai em memória, a cada passo dado com a presença que nos fortalece e ajuda na tomada de uma decisão, eis o que cada vez mais sinto de modo claro e pleno, na experiência de um relacionamento, do qual posso dizer sem receios, que tem sido a porta que obtive da vida para me encontrar, de vivenciar um amor que me reerguesse depois de tantas "tempestades" das quais saí por vezes endurecido para a possibilidade de me permitir sentir pleno, vivo.

Não poderia deixar de manifestar neste espaço, que é este blog, a minha face mais humana, a de um homem que tem aprendido a se deixar vencer pela oportunidade de amar, sem mais vestir sobre seu coração a mortalha da culpa, do medo, e com meu peito nu assim como minha mente é que me dispus a reverenciar em mim a presença de um sentimento que quando verdadeiro, como tal o tem sido, é capaz de junto ao Tempo promover uma cura de tal forma que não há bálsamo que lhe seja símile no que diz respeito a sua força.

Acaso se houve ao longo de quase que quatro anos algo que cobriu minha sensibilidade como uma crosta de peso inestimável foi este sentimento: culpa. Esquivei-me algumas vezes de fazer com que houvesse em mim um confrontamento com o que de fato eu sentia, qual a verdade que eu tomava para mim do que vem a ser a minha orientação sexual, feridas demais...repressão por parte da família, entre outras coisas, de modo que acabei construindo toda uma couraça que não sem esforço tenho conseguido romper. Não é sem razão que iniciei este post com o trecho da música "Tempo de amor", agora percebo que a minha maior fraqueza foi ter me permitido antes me pôr sempre em defesa, do que me deixar adentrar em uma vivência construtiva de minha afetividade.

Mas, sempre a vida nos convida a um recomeço...

E credito ao meu companheiro a sua devida importância em minha caminhada, em todo meu processo de reconstrução de valores, de reconstrução de minha própria identidade, uma grande importância, por saber estar disponível não somente nos momentos de gozo, mas nos espinhos também, e de me ensinar a me permitir ser verdadeiro com o que acredito, com os meus ideais, com o que sinto, e a estar presente respeitando a liberdade do outro - sua liberadade, de aceitar o que penso ou de contestar, de me provocar a ter uma visão nova sobre onde eu apenas contemplava uma saída.

Tinha muitas coisas por dizer, mas simplesmente digo, acaso se antes sofria por não saber como me deixar sentir amado e retribuir tal sentimento por alguém, posso dizer que este sentimento é o que tem de fato me impulsionado a lutar, com os meios que vem a minhas mãos pelo reconhecimento de minha dignidade, não só enquanto homossexual, pois minha orientação somente em parte me define, ela não diz respeito ao meu todo enquanto pessoa...busco reforçar minha dignidade de homem, pleno, que não tem porque se pôr nos pés de outros e calar quando deve buscar fazer valer seu direito de ter uma vida digna, com a assitência que vem em socorro aos outros homens, de modo igual, sem que haja diferença entre quem é "homo" e quem é "hétero".

O meu amor não me diminui, não me torna indigno, muito pelo contrário, é o que me humaniza, por isso não silencio, e enquanto puder farei do que tenho uma voz, pra que sobre a frieza e a sombra haja sempre uma luz de esperança, uma chama indignada contra o escuro...que persiste.

Rousse

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