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Avanço. Há 10 anos era criada a resolução que proibia tratar homossexualidade como doença.
O último dia 22 de março foi de festa para a comunidade LGBT. Nesta data celebrou-se o 10° aniversário da resolução que proíbe tratar a homossexualidade como doença no Brasil. Criada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), a medida se transformou em arma contra a discriminação.
Foi nos anos 80 que a suposta relação entre homossexualidade e patologia começou a perder força. Hoje a psicologia enxerga o interesse por uma pessoa do mesmo sexo somente como um dos tantos fenômenos que envolvem a sexualidade humana.
O Brasil é o primeiro país onde um conselho de classe foi responsável por criar uma legislação interna que proíbe classificar a homossexualidade como doença e, segundo o presidente do CFP, Humberto Verona, este é apenas um dos motivos para celebrar a data. "Podemos nos orgulhar porque o Brasil foi pioneiro. Além disso, a iniciativa abriu espaço para debates sobre o tema, contribuindo assim para toda sociedade", comenta. O profissional que insistir em "curar" o homossexual pode até mesmo ter o registro cassado pelo Conselho.
Mais do que uma conquista, para a militante Valquíria La Roche a resolução representa uma maneira de lutar contra a discriminação. "Tenho um subsídio que legitima minha ‘sanidade’. Quem insiste em dizer que tenho alguma patologia não possui nenhum tipo de fundamento para se basear, a não ser o preconceito", alega.
Segundo Verona, o próximo passo do CFP é "abrir os olhos" da sociedade sobre a possibilidade de crianças serem criadas por casais gays. "Já foi comprovado psicologicamente que não há relação entre a orientação sexual dos pais e a saúde mental da criança", defende.
Desinformação
Ideia de patologia ainda é presente
Ao se sentir atraído por homens, o hoje militante Sérgio Viula, 39, relacionou o desejo a pecado e doença. Foi então na igreja e na psicologia que ele procurou “ajuda”. “Até mesmo minha família me julgou como louco”, conta.
Em 1997, ele consultou um psicólogo que garantiu “curá-lo”, mas o suposto tratamento fracassou. Quatro anos depois, foi a vez de procurar um psiquiatra. “Ele disse que eu tinha duas alternativas. Ou saia do armário ou passava a vida fingindo que não sou gay. Optei pela primeira”, lembra.
Diferente de Sérgio, o também militante Fabrício Viana, 31, nunca sentiu que precisava de “cura”, mas diz ter sofrido ao escutar de outra pessoa que precisava de tratamento. “Aos 17 anos me apaixonei por um amigo que, apesar de sentir o mesmo por mim, disse que era melhor eu procurar um psicólogo”, conta. “Por anos a sociedade ouviu que a homossexualidade era uma anomalia. A resolução do CFP ainda é recente e, infelizmente, essa ideia ainda está no consciente de muitos”, completa. (RM)
Publicado em: 04/04/2009
Fonte: Jornal O Tempo
Jornalista: Renata Medeiros
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