quinta-feira, 19 de março de 2009

As lésbicas alemãs e o feminismo

(parte 3, do texto: As lésbicas na Alemanha do séc. XIX ao pré-hitlerianismo)


Muitas das mulheres que amavam outras mulheres não se sentiam confortáveis em participar em semelhantes festas públicas. Em vez disso, encontraram um lar no movimento feminista alemão, o que não só as ajudava a confirmar as suas convicções sobre a importância da independência das mulheres, mas também lhes dava a oportunidade de conhecer outras mulheres com as mesmas convicções.

Enquanto feministas, as lésbicas tinham 3 interesses principais: 1) a reforma da educação, que daria a mais mulheres acesso ao ensino superior e que também acabaria com a noção, então quase universalmente aceite, que a educação para as raparigas pouco deveria ultrapassar o torná-las agradáveis e capazes de ser boas donas de casa; 2) maiores oportunidades de emprego, que poriam à disposição das mulheres empregos que até então lhes eram vedados, tornando assim possível a independência a todas as mulheres que a quisessem; e 3) o direito de voto para as mulheres que, acreditavam elas, traria no seu rasto todas as outras reformas necessárias.

Enquanto que estas questões preocupavam muitas mulheres alemãs em geral, para as lésbicas eram vitais. Para as lésbicas de classe média estas questões eram condição absoluta para poderem viver como lésbicas sem terem que submeter-se ao casamento heterossexual a fim de manterem os seus estilos de vida burgueses.

Durante muito tempo, as feministas lésbicas alemãs trabalharam no movimento das mulheres sem se identificarem. Mas no final do séc. XIX emergiu um movimento homossexual (ou - segundo o termo mais popular - movimento "Uraniano"), dado que, ironicamente, os sexólogos que apresentavam ao mundo como anormal o amor mesmo-sexo também deram uma identidade coesa àqueles e àquelas com a coragem de viver tal amor. Embora de início o movimento Uraniano tenha sido composto quase inteiramente por homens, depressa congregou muitas lésbicas e serviu para reforçar a sua consciência em relação aos seus direitos no movimento feminista. Tendo como apoio a força do movimento homossexual, Anna Rueling pôde dizer num discurso público proferido em Berlim em 1904:



"Desde o princípio do movimento das mulheres até à presente data um número significativo de mulheres homossexuais assumiram a liderança nas inúmeras lutas e, através da sua energia, despertaram as mulheres comuns, naturalmente indiferentes e submissas, a uma consciência da sua dignidade humana e direitos. Se considerarmos as contribuições das mulheres homossexuais em prole do movimento das mulheres ao longo das décadas, é espantoso que as grandes e influentes organizações do movimento nunca tenham levantado um dedo a fim de promover os direitos civis e condição social das suas numerosas sócias Uranianas."

("Que interesse tem o movimento das mulheres na questão homossexual?")

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