domingo, 22 de março de 2009

BURUNDI: Início tardio na prevenção de HIV entre homossexuais

Fonte:

http://www.plusnews.org/pt/Report.aspx?ReportId=81111

BUJUMBURA, 31 Outubro 2008 (PlusNews) - Quando Georges Kanuma, líder de um movimento pelos direitos dos homossexuais no Burundi, foi pela primeira vez a uma conferência sobre o HIV, em 2004, ficou surpreso ao descobrir que lubrificantes à base de água, e não de vaselina – que parte o látex do qual os preservativos são feitos – devem ser usados durante sexo anal para a prevenção de HIV e outras infecções transmissíveis sexualmente (ITSs).

“Eu nunca tinha ouvido falar nisso, e eu posso dizer que se eu não tinha ouvido falar nisso, então certamente a maioria dos homens que praticam sexo com homens [HSH] no Burundi também não sabia disso”, disse o presidente da Associação pelo Respeito e Direito dos Homossexuais (ARDHO, em francês). “Nós pensávamos que o HIV era um risco para os homens que têm relações sexuais com mulheres, não para homens gays.”

Kanuma visitou diversos centros de saúde e ONGs que trabalham na área relacionada ao HIV, mas nenhum deles possuía um estoque de lubrificantes à base de água. Algumas poucas farmácias tinham estoque, mas os preços eram proibitivos.

“Isso me alertou para o facto de que precisamos fazer alguma coisa; então a ARDHO começou a ir à procura de quem poderia ajudar-nos a fornecer o lubrificante, e quais ONGs poderiam prover mensagens de prevenção a pessoas seropositivas”, afirmou. “Muitas organizações não acreditaram em mim quando eu disse a eles que havia gays no Burundi.”

Ao contrário de muitos outros países da região, o código penal do Burundi não criminaliza o sexo entre homens, mas a constituição considera ilegal o casamento gay. Homossexuais burundianos ocasionalmente são vítimas de homofobia, entretanto, Kanuma afirmou que a maior parte dos burundianos não era ciente de que havia HSH na sua sociedade. A ARDHO existe desde 2003, mas, até o momento não conseguiu obter qualificação legal de ONG.

A Aliança Burundiana de Associações de Luta contra a SIDA, uma coalizão nacional de ONGs relacionadas ao HIV, concordou finalmente em auxiliar a ARDHO e ajudá-la a redigir propostas de financiamento de actividades de prevenção ao HIV.

“Em 2007, uma ONG, a Associação Nacional de Apoio aos Seropositivos (ANSS, em francês), concordou em nos apoiar. Eles conseguiram alguns lubrificantes e preservativos de doadores na França, então agora eles nos enviam e nós entregamos às pessoas da nossa comunidade”, explicou Kanuma.

As percepções locais sobre a homossexualidade faz com que a distribuição de lubrificantes e preservativos seja feita às escondidas, com muitas ligações telefónicas de homens homossexuais a pedir que os itens sejam despachados em envelopes lisos aos seus escritórios ou residências, por pessoas que não sejam associadas a ARDHO.


“Nós nunca perguntamos às pessoas sobre sua etnia ou religião antes de dar-lhes medicamentos ou outro auxílio relativo ao HIV, então, por que nós iríamos perguntar sobre sua sexualidade?” indagou Jeanne Gapiya, proeminente activista nacional contra o HIV e fundadora da ANSS. “O problema é que esta é uma comunidade escondida, e a sociedade nega a sua existência.”

No seu último plano estratégico nacional, o Conselho Nacional de Controlo da SIDA, CNLS, incluiu HSH na lista de pessoas vulneráveis ao HIV. “Nós temos a consciência de que eles são um grupo marginalizado; nós começamos a convidá-los para reuniões através de sua ONG, mas a dificuldade é que nós não sabemos quem é a maioria deles e como alcançá-los”, informou Jean Rirangira, secretário executivo interino da CNLS.

Kanuma comentou: “Não é um problema apenas para os homens gays, é um problema para a sociedade inteira. Eu conheço muitos homens casados [‘heterossexuais’] nessa cidade [a capital burundiana, Bujumbura] que têm relações sexuais com homens gays. As pessoas iriam surpreender-se”, afirmou.

“Silêncio também é algo que está a nos matar”, acrescentou. “Eu tinha um amigo que teve uma ITS por cerca de um ano – ele estava a automedicar-se até que eventualmente foi à ANSS e foi devidamente diagnosticado, então ele foi curado muito mais rapidamente.”

Kanuma escreve artigos para jornais e participa como convidado em estações privadas de rádio para aumentar a conscientização sobre HSH e HIV. “Durante cada um dos programas de rádio eu recebo ligações telefónicas de pessoas que têm perguntas e dou o endereço de correio electrónico da ARDHO”, disse ele. “Nós recebemos mais de 150 e-mails e muitos telefonemas, o que mostra que ainda há a necessidade de haver mais informação.”

A ARDHO está a elaborar brochuras com detalhes sobre todos os meios de transmissão de HIV, incluindo sexo entre homens, para a distribuição nos principais centros de saúde. A ANSS planeja enviar um médico para fora de Burundi para um treinamento especial em assuntos de saúde relacionados a HSH, de forma a fornecer melhores cuidados de saúde.

Embora o progresso seja lento, a ARDHO e seus parceiros não pretendem pressionar muito o governo, e preferem negociar a partir de uma plataforma de saúde pública antes de exigir igualdade sob a lei. “Precisamos ir com calma para não tornar ainda pior a situação dos gays no Burundi”, disse Kanuma.

A prevalência de HIV no Burundi está a decair desde o fim dos anos 1990, entretanto, muitos pontos de vigilância indicaram recentemente uma tendência crescente; em Maio, oficiais anunciaram que a infecção por HIV havia subido de 3,5 por cento em 2002 para 4,2 por cento em 2008.

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