domingo, 10 de agosto de 2008

Konstantinos Kaváfis

Biografia disponível em:
http://lugardaspalavras.no.sapo.pt/poesia/kavafis.htm

Constantine P. Cavafy (Kavafis), nasceu em Alexandria (Egipto) em 1863. O seu pai morreu em 1870, deixando a família em precária situação financeira. A sua mãe e os seus seis irmãos mudaram-se para Inglaterra dois anos depois. Devido à má administração dos bens da família por parte de um dos filhos, a família foi forçada a regressar a Alexandria, na pobreza.
Os sete anos que Kavafis passou em Inglaterra foram importantes na formação da sua sensibilidade poética. O seu primeiro verso foi escrito em inglês (assinando 'Constantine Cavafy'), e o seu subsequente trabalho poético demonstra uma familiaridade substancial com a tradição poética inglesa, em particular as obras de Shakespeare, Browning e Oscar Wilde.
Os anos que se seguiram, de regresso a Alexandria, representaram tempos de pobreza e desconforto, mas revelaram-se igualmente significativos no desenvolvimento da sensibilidade de Kavafis. Este escreveu os seus primeiros poemas - em inglês, francês e grego - durante este tempo, em que aparentemente também teve as primeiras relações homossexuais.
Tendo trabalhado durante 30 anos na Bolsa de Valores Egípcia, Kavafis permaneceu em Alexandria até à sua morte, que ocorreu em 1933, por motivo de cancro da laringe. Sabe-se que recebeu a sagrada comunhão da Igreja Ortodoxa pouco antes de morrer e que o seu último gesto foi desenhar um círculo numa folha branca e depois colocar um ponto no meio do círculo.
Pelos contornos da sua história fragmentária, poder-se-ia dizer que a vida mais rica de Kavafis seria a vida interior sustentada pelas suas relações pessoais e pela sua criatividade artística.
Embora Kavafis tenha conhecido inúmeros homens das letras durante as suas viagens a Atenas, não recebeu o total apreço dos letrados atenienses senão aquando da publicação da sua colectânea de poemas em 1935. Parece provável que a sua importância tenha permanecido relativamente irreconhecida antes da sua morte precisamente pelas mesmas razões que hoje o estabelecem como um dos mais originais e influentes poetas gregos do século XX: o seu irredutível desapreço, na idade adulta, pela retórica que então prevalecia entre os poetas da Grécia continental; a sua quase prosaica frugalidade no uso de figuras de estilo e metáforas; a sua constante evocação de ritmos falados e coloquialismos; a sua franca e avant-garde abordagem dos temas homossexuais; a sua re-introdução dos modos epigramático e dramático que haviam permanecido largamente abandonados desde os tempos helenísticos; o seu frequentemente esotérico mas brilhantemente vivo sentido de história; a sua dedicação ao Helenismo, aliada a um estatuo cinismo relativamente à política; o seu perfeccionismo estético; a sua criação de um mundo ricamente mítico durante a sua idade adulta. Estes tributos, possivelmente pouco valorizados na sua época, hoje estão indubitavelmente entre os que lhe garantirão um lugar duradouro na tradição literária do mundo ocidental.

conheça alguns de seus poemas:

Ítaca

Quando começares a tua viagem para Ítaca,
reza para que o caminho seja longo,
cheio de aventura e de conhecimento.
Não temas monstros como os Ciclopes ou o zangado Poseidon:
Nunca os encontrarás no teu caminho
enquanto mantiveres o teu espírito elevado,
enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo.
Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros
a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma,
a não ser que a tua alma os crie em frente a ti.

Deseja que o caminho seja bem longo
para que haja muitas manhãs de verão em que,
com quanto prazer, com tanta alegria,
entres em portos que vês pela primeira vez;
Para que possas parar em postos de comércio fenícios
para comprar coisas finas, madrepérola, coral e âmbar,
e perfumes sensuais de todos os tipos -
tantos quantos puderes encontrar;
e para que possas visitar muitas cidades egípcias
e aprender e continuar sempre a aprender com os seus escolares.

Tem sempre Ítaca na tua mente.
Chegar lá é o teu destino.
Mas não te apresses absolutamente nada na tua viagem.
Será melhor que ela dure muitos anos
para que sejas velho quando chegares à ilha,
rico com tudo o que encontraste no caminho,
sem esperares que Ítaca te traga riquezas.

Ítaca deu-te a tua bela viagem.
Sem ela não terias sequer partido.
Não tem mais nada a dar-te.

E, sábio como te terás tornado,
tão cheio de sabedoria e experiência,
já terás percebido, à chegada, o que significa uma Ítaca.



A mesa ao lado

Terá, quando muito, vinte e dois anos.
E no entanto estou certo de que, há quase tantos
anos passados, esse mesmo corpo eu desfrutei.
Não é, de modo algum, uma ilusão erótica.
E somente há pouco foi que entrei no cassino;
nem tive tempo de beber demais.
O mesmo corpo eu desfrutei.
Se não me lembro onde - não quer dizer que seja
esquecimento].
Ah, agora sim, que se sentou ali, na mesa ao lado,
reconheço cada movimento seu - e, para além das roupas,
eu os revejo, nus, os membros tão amados.
A Origem



O Prazer proibido consumou-se.Eles se erguem do leito e, sem falar-se,vestem-se à pressa.Saem da casa em separado, às escondidas; vão-seum tanto inquietos pela rua, como se temessem que algo neles revelasse em que espécie de leito possuíram-se.
Mas, do artista, como a vida se enriquiece!
Amanhã, no outro dia, anos depois, serão escritos
os versos fortes que aqui tem origem.


Candelabro


Num quarto pequeno e nu,
quatro paredes somente,
recamadas de muito verdes panos,
um belo candelabro brilha incandescente;
e
em cada uma das chamas se acende uma lúbrica paixão,
um lúbrico ardor.
Na pequena alcova,que ilumina refulgente
a forte luz que vem do candelabro,
não é vulgar fogo esta luz ardente.
Não foi feita para os corpos tementes
a
volúpia que há neste calor.



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