terça-feira, 5 de agosto de 2008

Sobre armários...





Armário?
Ah sim... Pode por ali no canto esquerdo do meu quarto... Minhas roupas estão em desordem, por isso comprei... Fiquei em dúvida inicialmente se comprava da cor mogno ou marfim, mas tanto faz, o importante é que as guarde.
Sair do armário? Só se sai de algum lugar quem entrou, eu não entrei, e sinto que não tenho porque me envergonhar de minhas escolhas, pois elas me trouxeram meios de encontrar a plenitude, ao lado de alguém que me respeita, e ao qual amo.
Neste instante onde contemplo minha face, a face de minha alma ainda jovem, de um jovem de 21 anos, diante de tudo que temi e venci me ponho confiante na estrada da vida, com as mãos de minhas certezas entrelaçadas com as daquele com o qual compartilho meu afeto. Orgulho-me de ser quem sou, como muitos outros, não raro, lido com situações onde alguns tentam subestimar minha força, meus sentimentos, minha dignidade, a ponto de querer me constranger ou a ponto de vomitarem suas “exegeses” sobre mim. Não creio que haja um Deus tão excludente que se recuse a me chamar de filho, diante de tantos homens que me renegam e também a outros tantos homens e mulheres que tomaram por casa de seu afeto alguém do mesmo sexo.
Não creio que a finalidade do nascimento as religiões foi apartar o homem de Deus, só por que um se distingue, entre muitas aspas, dos demais por sua etnia, por sua crença, por sua orientação sexual. Assim como não creio que as agressões que tantos homossexuais cotidianamente sofrem possam ser deixadas ocorrer, fundamentadas em escolhos derivados da deturpação dos credos, derivados da intolerância, do medo do "outro" porque ele não se adequa aos nossos padrões, do medo do "outro" porque pensa diferente ou fala o que sente.
Quisera ser arauto de boas notícias... Como quero um dia proclamar que tenho direitos firmes e consolidados na lei, que assegurem a minha integridade física, moral e de meu companheiro, mas ainda há muitos entraves para que isso ocorra, nossa Justiça ainda é um tanto morosa, e enquanto isso muitos estão por aí a serem perseguidos, humilhados, agredidos, quando não mortos.
"O sol há de brilhar mais uma vez”... Assim diz uma canção, este sol para mim é a esperança que me move desde quando desperto, e que me anima a começar mais um dia a lutar por respeito, respeito por ser um homem que em nada fica a dever em capacidade produtiva, intelectual, por ser homossexual e que, portanto, não deve ser vítima de discriminação ou agressão por parte de nenhum outro cidadão. O fato de ter por minha companhia alguém igual a mim em carne, não implica que sou inferior a ninguém, e que tenha que me ocultar, como se por amar de algum modo não tão convencional devesse por isso ter vergonha de admitir o que sinto admitir minha identidade, de um homem que a outro ama, e que em nome do que sente vive sendo o que é na pele dos dias que correm.

*aluno do curso de História - UFPI, responsável pela organização deste blog.


vídeo:
CAKE "I Will Survive"

Um comentário:

Luriana disse...

Muito bom esse texto. Você pensa como eu em relação à religião que exclui pela mentalidade dos homens e mulheres, pois também não acredito num Deus que nos considerasse diferente por causa da orientação sexual. Também espero que possamos exercer aqueles 37 direitos que nos são negados enquanto cidadãos e não tenhamos que ver pessoas sendo agredidas e/ou mortas pelo mesmo motivo. Bacana que já nessa idade vc viva um relacionamento assim e sem medo. Parabéns por tudo! :)Beijos, Luriana.