quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O Exército e o preconceito institucionalizado contra o homossexual


Disponível em:
http://www.ogirassol.com.br/pagina.php?editoria=Opiniao&idnoticia=251

No Brasil atual, as manifestações de preconceito e racismo sempre se deram de forma dissimulada. A exceção de grupos extremistas, como os neonazistas carecas, são raras as pessoas que costumam se auto-intitular intolerantes às minorias. Vive-se a hipocrisia de uma falsa harmonia social, em que as manifestações de intolerância são faladas ao pé-de-ouvido, nunca defendidas abertamente, ou então são camufladas por meio de piadinhas corriqueiras.

Nos últimos dias, porém, vimos o preconceito ser institucionalizado. Quando os sargentos do Exército Fernando de Alcântara e Laci de Araújo surgiram na capa da revista Época, assumindo uma relação de mais de dez anos (tornando-se, ressalte-se, publicamente o primeiro casal gay das forças armadas), algo da hipocrisia brasileira havia sido rompido. E o Exército, se sentindo ofendido, reagiu.

O imaginário popular sempre apontou para a prática homossexual como sendo algo comum em confinamentos masculinos, como os quartéis militares e os mosteiros e seminários católicos. Portanto, a matéria com os sargentos até poderia passar despercebida, por seu conteúdo ser tão óbvio. Poderia, mas não passou, porque ela rompe com o princípio do fingimento, do fechar os olhos para os tabus - as práticas que podem manchar a imagem de uma instituição que cheira ao ranço do moralismo.

Na capa da revista Época, Laci aparece com uma mão sobre o ombro de Fernando. Como chamada: “Eles são do Exército; Eles são parceiros; Eles são gays”. Como dito, o Exército reagiu. Ao conceder uma entrevista à Rede TV!, o casal de sargentos se viu cercado por dezenas de militares fortemente armados, para prender Laci por deserção – pela falta de mais de oito dias consecutivos ao trabalho. Ora, querem dizer que é uma prática comum o Exercito Brasileiro destacar um pequeno batalhão fortemente armado para prender um de seus membros pela simples falta ao serviço? Pois é! Mas até o ministro da Defesa, Nelson Jobim (que já foi ministro do Supremo Tribunal Federal), fingiu acreditar nessa historinha pra boi dormir.

Como declarou o próprio sargento Laci, ele foi transformado em “inimigo número um da instituição (do Exército)”. No cárcere militar, em Brasília, permanece algemado, mesmo quando está isolado atrás das grades. Para tomar banho de sol, passa pelo constrangimento de ter que se despir diante de cinco soldados. Laci disse que sofreu várias ameaças e que teme por sua vida! Eu pergunto: tudo isso por ele ter faltado ao trabalho? E seu companheiro, Fernando Alcântara, que trabalhava com licitações e contratos, mas que foi logo rebaixado à chefia da lavanderia. Qual o seu crime perante o Exército senão o de ser homossexual?

Os generais do Exército e o próprio ministro Jobim deveriam refletir um pouco sobre as palavras do seu superior, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para quem o preconceito contra os gays é uma doença perversa – “talvez seja a doença mais perversa impregnada na cabeça do ser humano”, disse o presidente, ao participar da abertura da conferência nacional do segmento GLBT. "Nós precisamos criar no Brasil o dia de combate à hipocrisia", completou o presidente. Aos intolerantes, das forças armadas ou não, fica a sugestão de refletirem.


Luis Celso Moreno luiscelsomoreno@yahoo.com.br

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