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26/07/2006:
ANTÔNIO GOIS
CRISTINA TARDÁGUILA
da Folha de S.Paulo, no Rio
O preconceito contra gays, no Brasil, é algo que aparece desde cedo. Uma pesquisa feita com jovens de 15 a 29 anos revela que quase a metade deles (47%) afirmou que não gostaria de ter um homossexual como vizinho. E a escola, espaço onde isso poderia ser combatido, mostra-se despreparada para lidar com o tema.
Esse quadro de intolerância e despreparo aparece em uma pesquisa inédita feita para a Unesco a partir de uma amostra de 10.010 jovens de todo o Brasil. Uma pesquisa sobre escola e homofobia também está sendo realizada pela OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Parte dos resultados foi apresentada pela pesquisadora Miriam Abramovay, secretária-executiva do Observatório Ibero-Americano de Violência nas Escolas, a professores da rede pública do Rio há duas semanas, num seminário de sensibilização para lidar com o tema organizado pelo grupo Arco-Íris, com apoio do MEC.
A pesquisa com jovens de todo o Brasil indica que o preconceito é maior entre homens, entre os menos escolarizados, mais pobres e mais jovens. Entre homens, por exemplo, 54,2% disseram que não gostariam de ter um vizinho homossexual, percentual que cai para 40,1% entre mulheres.
"Desde que fizemos a primeira pesquisa sobre violência entre jovens, há nove anos, encontramos uma situação de homofobia muito intensa, e por isso fomos aprofundado essa questão. Os dados mostram como essa questão é importante e não é secundária. Ela faz parte de um contexto de diferentes violências que existem na sociedade. Esse quadro aparece também na escola, mas ela, que poderia ajudar a superar, finge que nada está acontecendo."
O despreparo da escola para lidar com o tema dos homossexuais aparece em uma pesquisa da Unesco sobre o perfil dos professores brasileiros.
Segundo a pesquisa, que gerou um livro, a maioria (59,5%) dos professores entrevistados admitiu não ter informação suficiente para lidar com a questão da homossexualidade. Nas entrevistas individuais feitas, muitos disseram que preferiam não tratar da questão em sala, ignorando qualquer tipo de diferença entre os alunos. Para Abramovay, no entanto, não se pode culpar os professores ou jovens por construírem esse preconceito em sala de aula.
"Nossa sociedade é homofóbica. Tenho certeza de que professores e alunos apenas reproduzem esse quadro. No caso dos professores, é preciso lembrar também que o tema da diversidade é muito pouco discutido nas faculdades de educação. Eles são formados apenas para serem professores de português ou matemática", diz.
Intolerância
A elevada intolerância entre os jovens do sexo masculino e de pouca escolaridade já apareceu em outras pesquisas. Uma delas foi feita com adolescentes de 18 e 24 anos de Porto Alegre, Rio e Salvador pelo Clam (Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos), da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Essa pesquisa mostrou que 49% dos jovens do sexo masculino disseram que homens que têm relações sexuais com outros homens são "doentes" ou "não têm vergonha". Entre os filhos de mães sem ensino fundamental completo, esse índice chegava a 60,1%.
Na opinião da coordenadora do Clam, Jane Russo, na raiz dessa homofobia há também uma questão de gênero: "É uma visão tradicional da sociedade que coloca a mulher num papel submisso. Nesse sentido, o homem que é "mulherzinha" é menos respeitado, e isso é mais forte nas classes mais pobres."
Para Abramovay, outra possível explicação é o fato de esses adolescentes estarem numa fase de resolução da sexualidade: "Essa homofobia pode surgir por medo de parecer igual a alguém que é rechaçado pela sociedade".
Fonte: Folha on Line
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