sexta-feira, 25 de julho de 2008

Aulas de intolerância



material extraído de : http://www.somos.org.br/noticias.asp?id=86





Gays espancados na UFRJ e na UFMA. Homossexuais ameaçados e intimidados na USP. Casal de estudantes lésbicas expulso por segurança da UFF, depois de trocar beijos

Bandeiras do arco-íris queimadas na UFT (Tocantins). Cartazes de um grupo de minorias sexuais vandalizados na Rural. Gays e lésbicas ofendidos em grupos de discussão no curso de direito da UFRJ. As denúncias acima não viraram manchetes.
Mas todas foram feitas de dois anos para cá em importantes instituições de ensino superior do país. Não há números sobre abusos cometidos contra minorias sexuais em universidades, mas não são raros os universitários gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros com histórias de preconceito para contar.
Desde cedo, eles aprendem uma lição amarga sobre a academia, suposto lugar de diversidade e tolerância: ela abriga inúmeras manifestações de homofobia, menos ou mais explícitas, quase sempre sob o silêncio das reitorias. Um dos casos recentes mais emblemáticos de violência física se deu no fim do ano passado e terminou sem punição. O aluno de pedagogia da Uerj João (nome fictício) conta ter sido espancado por um colega durante um congresso estudantil, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
João e um grupo extenso de heterossexuais defendiam idéias contrárias às do grupo do agressor. Mas o estudante gay foi o único atacado. Tudo em meio a insultos homofóbicos: - Ele começou a me xingar de “veado”. Não reagi. Mesmo assim, ele disse: “Vou bater nesse veado”. Junto com um amigo, partiu para cima de mim. Ele me deu muitos socos no rosto, nas costas, na cabeça. Corri, mas ele veio atrás, socando muito. Só uma menina magrinha da Unirio se pôs na frente. Ninguém mais ajudou. Chamada, a polícia maranhense foi embora tão logo os seguranças da faculdade contaram o motivo da agressão.
João não registrou queixa, e tanto a UFMA quanto a Uerj nunca se manifestaram sobre o episódio. Ele conta que, mesmo afastado do movimento estudantil, continuou a ser ameaçado pelo rapaz. E, na Uerj, até mesmo um professor já o teria discriminado. - Eu estava na mesa de apuração, na eleição da reitoria, em dezembro. Ele se aproximou e me disse que não achava legal eu mostrar meus trejeitos gays - afirma João, que não prestou queixa na reitoria e não revelou a identidade do professor.
O Grupo GLBT Diversitas relata que, na UFF, no final de 2006, uma estudante de arquitetura sofreu discriminação de quem deveria protegê-la. Ela beijava a namorada no campus do Gragoatá, em meio a casais heterossexuais que faziam o mesmo, quando teria sido abordada por um segurança. Aos gritos, ele teria perguntado se “aquilo” era permitido e ordenado que elas saíssem. - O segurança disse que elas não podiam se beijar dentro da universidade. Na época, a UFF foi informada, mas não fez nada. Fizemos barulho, levamos o caso a público, mas não houve manifestação oficial - diz Margarida Abrahão, do Grupo GLBT Diversitas, que promove na universidade debates e eventos pela promoção da diversidade sexual.
O pró-reitor de assuntos acadêmicos da UFF, Sidney de Mello, afirmou desconhecer casos de discriminação desde que assumiu, no fim de 2006. As meninas não quiseram falar sobre o episódio. A dificuldade de se expor é comum. Mas há quem prefira mostrar o rosto e narrar a violência enfrentada. Como o estudante de letras Marcos Visnadi, da USP. Em 2006, depois de uma festa na Cidade Universitária, no Butantã, ele foi cercado, num ponto de ônibus, por um grupo que o vira com o namorado. - Eles me xingavam. Eu tentava conversar, mas não rolava.
Aí começaram a bater com um pedaço de madeira ao meu lado. Milagrosamente, passaram guardas universitários, que os intimidaram e me levaram a outro portão. Cheguei a pensar em não contar nada, mas resolvi me expor. E conheci muitos outros casos. No começo, eu achava essas manifestações de ódio chocantes. Mas, depois que você as vive em ambientes diferentes, vê que são algo difundido. Outra história reforça essa opinião. No campus Zona Leste da USP, um casal de lésbicas que cursa design conta ter sofrido discriminação por parte de uma policial militar há cerca de dois anos. - Minha namorada estava no meu colo, na cantina. A policial passou por ali e me viu dando um selinho nela. Então disse: “Eu não sabia que homossexualismo era permitido por lei”. Eu respondi: “Não sabia que era proibido”.
Ela retrucou que a USP era uma faculdade de família, e começamos a discutir - disse uma delas, Bárbara (nome fictício). - Ela me levou para o posto policial e queria me enquadrar por atentado ao pudor. Pelo Código Penal, não existe tal tipificação. No artigo 214, “atentado violento ao pudor” é definido assim: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal”. Veículo: O Globo Data: 19 de fevereiro de 2008 Por Alessandro Soler»



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