sexta-feira, 25 de julho de 2008

O gosto amargo da impunidade

na foto: Igor Leonardo Lacerda Xavier
material extraído de : http://www.oestadorj.com.br/?pg=noticia&id=766

Carta aberta de Marlene Xavier*

(Mãe do bailarino e coreógrafo Igor Leonardo Lacerda Xavier, assassinado em março de 2002.)

No dia 1º de março de 2002, a cidade de Montes Claros foi surpreendida com a notícia do bárbaro assassinato do bailarino e ator Igor Leonardo Lacerda Xavier, cometido pelo assassino confesso Ricardo Athayde Vasconcelos tendo como comparsa seu filho Diego Athayde.

O assassino, encontrando Igor em um bar, convidou-o para ir até o seu apartamento com o pretexto de emprestar-lhe um livro que o ajudaria na produção do seu próximo espetáculo. Lá, com a ajuda do próprio filho, torturou e matou o meu filho com cinco tiros.

O crime aconteceu em um prédio de apartamentos no centro da cidade. Os moradores e vizinhos ligaram com insistência para a polícia. Mas a polícia não se fez presente.

Os criminosos arrastaram o meu filho por três andares escada abaixo, maltratando terrivelmente o seu corpo, o colocaram na carroceria do carro de um parente chamado para ajudar no ato criminoso, lavaram o sangue do apartamento e das escadas, lançaram o corpo na beira de uma estrada, jogaram fora as armas e fugiram para Belo Horizonte.

Não sei quanto tempo levaram para fazer tudo isso. A polícia somente chegou de manhã quando os bandidos já estavam em segurança a caminho da capital do estado.

Foi pedida a prisão preventiva dos assassinos. Eles fugiram e pediram habeas-corpus, que foi negado em Belo Horizonte e concedido em Brasília, supostamente por meios fraudulentos, pois todos sabem do poderio econômico e político dos assassinos, que escorados na impunidade, desafiam a nossa família e a sociedade andando livremente pelas ruas de nossa cidade.

Desde 2002, a família, amigos e a classe cultural montesclarense vêm lutando ininterruptamente por justiça, respeito aos direitos humanos e diferenças, colocando o caso Igor Xavier como uma bandeira de reflexão e luta permanente por direitos iguais, não só em Montes Claros e no Norte de Minas, como também em todos os lugares em que o ser humano vem sendo ultrajado.

Entretanto, os assassinos alicerçados na tradição familiar e no poder do dinheiro, ainda hoje, estão em liberdade, pelo fato de seus advogados estarem impetrando recursos seguidamente mesmo perdendo todos.

Sendo um crime hediondo, onde os assassinos demonstraram premeditação, frieza e crueldade e que por respeito à Justiça já era para estarem na cadeia, o caso se arrasta, pois, a todo o momento os advogados aproveitam brechas nas leis brasileiras para requerer embargos, recursos especiais, extraordinários entre outras invenções jurídicas protelando o julgamento.

Infelizmente o Código Penal Brasileiro, caduco e ultrapassado para os dias de hoje, permite que criminosos continuem em liberdade enquanto o processo fica parado e mofando nas prateleiras dos órgãos responsáveis até cair no esquecimento e talvez nem haver julgamento.

Igor Xavier, profissional da arte, batalhador incansável pelo avanço da cultura em sua cidade natal (Montes Claros), bailarino, coreógrafo, diretor e produtor de espetáculos. Impressionava a todos pela retidão de caráter, humildade e responsabilidade. Bondoso e amável, alegre e educado.

O motivo do crime: Homofobia. O próprio assassino em seu depoimento disse: "Não suporto homossexuais!".

Eu sou a mãe de Igor Xavier e não me conformo. Saber que já se passaram tantos anos em que não sinto o abraço do meu filho, não vejo o brilho dos seus olhos e que o som da sua risada cristalina nunca mais chegou aos meus ouvidos.

Há muito nossa família convive com a dor e a saudade, enquanto os assassinos desfilam de cabeça erguida apostando na impunidade. Seus advogados afogados em rios de dinheiro providenciam para que o processo não seja liberado para julgamento.

Apelo aos poderes instituídos que coloque em pauta esse processo o mais breve possível, para julgamento em Montes Claros, onde tudo aconteceu.

É preciso que façamos alguma coisa; qualquer coisa que mostre ao mundo nosso repúdio contra a covardia, a violência e o desrespeito aos direitos humanos.

É preciso não se curvar diante da injustiça!

Imploro a todos que estiverem lendo essa mensagem que se unam em oração comigo, para que a justiça seja feita e possa inibir a ação desses criminosos. Peço a você que entre nesta luta conosco repassando essa mensagem, para que indivíduos como esses não continuem matando pessoas inocentes.

Hoje, só vejo meu filho em sonhos; até que o Senhor me conceda o milagre de um dia encontrá-lo. Enquanto isso não acontece, e enquanto me restar um sopro de vida, lutarei para que a justiça seja feita. Os assassinos apagaram a vida do meu filho, mas não deixarei que apaguem também a sua memória.

* Apelo divulgado na Internet.


O conteúdo dos textos aqui publicados é de inteira responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião d'O Estado RJ.





Notícia Postada em 27/09/2007 por: Marlene Xavier

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