segunda-feira, 28 de julho de 2008

A carga viral no sémen


disponível em:

http://www.ilga-portugal.oninet.pt/glbt/saude19990621.
htm


Na recente conferência científica de Chicago foram apresentados os resultados de vários estudos sobre a carga viral seminal, muitos dos quais confirmam a necessidade de manutenção dos conceitos de sexo mais seguro e transmissão do VIH.

Durante o teste de CV, tanto no sangue como no sémen, antes de se proceder à contagem de viriões, o líquido é sujeito a uma centrifugação de forma a obter uma separação entre o plasma e o precipitado de células. Embora o valor da carga viral (CV) utilizada na gestão clínica de doentes seja a obtida no plasma sanguíneo, há um crescente interesse em saber o que se passa nas células.

O primeiro estudo1 analisa a relação entre a carga viral no plasma sanguíneo (CVPSA) e a carga viral no plasma seminal (CVPSE) durante a infecção aguda (primeiro ano de infecção) em pessoas sem qualquer terapêutica antiretroviral. Todas as amostras de plasma seminal registaram uma média da carga viral detectável variável (3.1 – 3.9 log10 copias/mL) indepen-dentemente das variações da CVPSA (0.3 – 5.6 log10 copias/mL). Os resultados sugerem duas hipóteses importantes: 1) o sémen e o sangue possuem mecanismos diferentes de controlo e replicação do VIH; 2) a CV no sémen, em indivíduos sem qualquer terapêutica, é discordante e variável quando comparada com a CVPSA, podendo ser um local previlegiado de "refúgio" do virus.

Um outro estudo2 tentou descobrir indícios da presença do VIH no sémen de 7 pacientes cuja terapêutica antiretroviral tinha conseguido baixar os valores da CVPSA para níveis indetectáveis. Através da cultura das células provenientes das amostras de sémen, foram indentificados dois casos em que se detectou a (~30%) presença de DNA pró-viral. Estes resultados indicam a forte probabilidade (à semelhança do estudo anterior) do sémen albergar estirpes de VIH competente, pouco sensíveis aos agentes antiretrovirais, capazes de se replicar, mesmo em índividuos com carga viral indetectável no plasma, servindo como meio transmissor e, possívelmente, impedindo a erradicação completa.

Por outro lado, em pacientes a fazer uma terapêutica antiretroviral e com CVPSA e CVPSE detectáveis parece haver uma correlação entre os valores numa e noutra – em média menos 1 log10 entre a primeira e a segunda3. Mesmo após a redução da CV no plasma do sangue e do sémen, e à semelhança do estudo anterior (embora num universo maior: n=103), e após cultura, cerca de 30% dos pacientes mantinham a presença de HIV no sémen.

Finalmente, o quarto estudo4 conduzido no Brasil, tendo por objectivo avaliar a relação entre os valores de CVPSA e CVPSE em 70 pacientes antes e depois da introdução dum regime terapêutico, chegou a conclusões semelhantes. Em regra, o decréscimo do valor da CVPSE acompanhou, por baixo, cerca de 1-1.5 log10 o valor da CVPSA.

Conclusões: ao contrário do que seria empirico e lógico esperar, um resultado de carga viral indetectável no plasma sanguíneo, mesmo durante a administração de um regime terapêutico altamente eficaz, não garante, nem a indetectabilidade de VIH no sémen nem reduz a transmissibilidade do vírus.

1 (Abs. 301 - T. Schacker et al., Retrovirus Conference, Chicago – Fevereiro 1999)

2 (Abs. 7 - J. Roger et al., Retrovirus Conference, Chicago – Fevereiro 1999)

3 (Abs. 220 - J.S. Evans et al., Retrovirus Conference, Chicago – Fevereiro 1999)

4 (Abs. 276 - P.F. Barroso et al., Retrovirus Conference, Chicago – Fevereiro 1999)

Gonçalo Dumas Diniz

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