segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sida - Alerta em conferência mundial: Gays menos prevenidos.


disponível em:
http://www.ilga-portugal.oninet.pt/glbt/saude200650819.htm


(Correio da Manhã de 19 Agosto 2006)

A comunidade homossexual dos países ricos parece estar a descurar a prevenção da doença

Os homossexuais foram os primeiros a precaver-se contra a infecção quando o vírus da sida começou a fazer vítimas. Mais de 20 anos depois, ante um certo ‘cansaço da sida’ e a impressão, errada, de que a doença já não é uma ameaça, os homossexuais e bissexuais dos países desenvolvidos – com acesso aos medicamentos anti-retrovirais – parecem ter afrouxado a prevenção, facilitando o contágio. O alerta foi lançado no âmbito da 16.ª conferência mundial sobre a doença, que ontem terminou, no Canadá, sem que fossem apresentadas novidades sobre o tratamento.

O estudo de Ron Stall, professor da Universidade de Pittsburgh, no estado norte-americano da Pensilvânia, aponta para uma forte progressão da infecção durante os próximos anos nos Estados Unidos, Canadá, Europa Ocidental, Austrália e Nova Zelândia.

Considerando a taxa de incidência da doença (1,9 por cento), o investigador estima que oito por cento dos homossexuais que hoje têm 20 anos são seropositivos. Daí retirou que um quarto desta população estará infectada aos 30 anos e 58 por cento aos 60. “A manutenção dessas taxas de incidência dará taxas muito altas de presença do vírus da sida em cada nova geração de homossexuais”, alertou.

UMA IDEIA ERRADA

Júlio Pires, responsável da associação de defesa dos direitos de homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgéneros Ilga Portugal, desconhece os números, mas não a realidade a que se reporta o professor norte-americano. “Criou-se a ideia de que a sida não é uma doença mortal, que se pode viver com ela durante muitos anos e isso está na base de um certo afrouxamento da prevenção”, afirma ao CM.

Orientador das campanhas de informação levadas a cabo pela Ilga em espaços de diversão nocturna e de prostituição, Júlio Pires alerta para a redução drástica da qualidade de vida associada à infecção pelo vírus da sida. “E uma coisa é certa: não há cura para a doença.” Júlio viu recentemente morrer um amigo.

O responsável do Centro de Controlo de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, Ron Valdisseri, apontou como causas para o número crescente de diagnósticos de seropositividade entre os homossexuais em 35 estados norte-americanos o consumo crescente de metanfetamina – droga que favorece as relações sexuais não protegidas – e um “certo cansaço da sida”. “Temos também uma nova geração de homossexuais, que não viveu os primeiros anos da doença e não viu morrer bairros inteiros”, disse, acentuando: “A sida continua a ser uma doença incurável.”

Em Portugal, a transmissão do vírus pela via homossexual masculina está na origem de 11,8 por cento dos 29 461 casos de infecção notificados, depois da transmissão por via heterossexual (36,9 por cento) e em indivíduos toxicodependentes (45,5 por cento).

TROPA NO EXTERIOR EM RISCO

O coordenador nacional para a infecção VIH/Sida, Henrique Barros, sublinhou ontem, em Toronto, a necessidade de encarar a luta contra a doença à luz do risco a que estão sujeitas as forças armadas em missão no estrangeiro.

O assunto, abordado durante a conferência mundial sobre sida, é também de interesse português, sublinhou aquele responsável, preocupado com “o impacto da doença nos próprios sistemas de segurança”.

Já os resultados dos testes mais recentes dos medicamentos anti-retrovirais, apresentados nos painéis científicos da conferência, desapontaram Henrique Barros, que concluiu não se ter verificado qualquer mudança na resposta à doença, pelo que, considerou, a prevenção continua a ser o melhor meio de luta contra o vírus.

PROTESTO NA ÁFRICA DO SUL

Enquanto, no Canadá, mais de 24 mil delegados de 170 países se preparavam para declarar encerrada a 16.ª conferência mundial sobre sida, 35 activistas da organização não-governamental sul-africana Treatment Action Campaign (Grupo de Acção pelo Tratamento) ocuparam ontem um departamento governamental provincial em protesto contra a recusa do Governo de administrar anti-retrovirais a presos.

Os activistas, que serão acusados de violação de propriedade alheia, exigiam a prisão da ministra da Saúde da África do Sul por esta ter ignorado uma ordem judicial intimando o Governo a providenciar anti-retrovirais a detidos infectados. A ministra Manto Tshabalala-Msimang foi duramente criticada por ter defendido, em Toronto, o uso de suplementos vitamínicos, alho, beterraba, batata africana e outro tipo de alimentos naturais contra a sida, a mesma política que segue no país. “Não me importo que me chamem doutora Beterraba, a verdade é que a chave está na nutrição”, disse a ministra.

EM PORTUGAL

359 NOVOS CASOS

No primeiro semestre de 2006 foram diagnosticados 359 casos de infecção pelo VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) e sida em Portugal, avança o mais recente relatório do Centro de Vigilância Epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

1173 NOTIFICAÇÕES

No mesmo período, os primeiros seis meses deste ano, foram notificados 1173 casos de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. Destes, 465 eram casos de sida, dos quais 397 foram notificados em 2006 e 68 em anos anteriores, mas recebidos em 2006.

BALANÇO DESDE 1983

Desde 1983, quando foi identificado o primeiro caso de infecção, até ao final do mês de Junho, encontravam-se notificados 29 461 casos de infecção VIH/Sida nos diferentes estadios de infecção.
Isabel Ramos com agências.

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